Marie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu. Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.Uma história arrebatadora contada de forma fascinante. Com incrível habilidade para combinar lirismo e uma observação atenta dos horrores da guerra, o premiado autor Anthony Doerr constrói, em Toda luz que não podemos ver, um tocante romance sobre o que há além do mundo visível.
Poderia começar essa resenha atribuindo a forma que Anthony Doerr pega praticamente três histórias principais e vai construindo uma ligação até o momento em que elas se cruzam a causa de ter gostado tanto do livro. Seria um motivo bastante pertinente já que achei essa construção maravilhosa, cheia de nuances e detalhes que só me deixavam ainda mais aflita para ler o exato momento que essas histórias convergiriam inevitavelmente e os questionamentos sobre o destino dos personagens seriam respondidos. Porém o motivo não foi somente esse.
Podia também comentar que o assunto sempre me interessa. Gosto mesmo de histórias que se passam na Segunda Guerra porque sempre tem embasamento histórico e nos apresenta outra perspectiva dos acontecimentos sem ter aquele tom professoral e focando em personagens que não foram protagonistas no desenrolar da guerra. Mas também não foi por isso.
Faria sentido falar como a divisão do livro em treze partes e de seus capítulos pequenos, contados basicamente sobre dois pontos de vista, com ocasionais participações de outros personagens me agradou. Como para mim foi uma leitura bastante rápida apesar da quantidade de páginas, e como a narrativa não linear me envolveu e deixou curiosa o tempo todo, sem partes lentas ou desinteressantes. Ou como o autor foi muito feliz e sensível ao expor suas ideias, dosando bastante bem as informações que culminaram no ápice do livro. Ainda sim não seria motivo bastante.
Poderia falar de Werner e Marie-Laure. De como eu sofri com os dois, torci por eles. Como acompanhar os dois lados da guerra pelos pontos de vista de personagens tão ricos, tão intensos e tão sensíveis é o grande trunfo do livro. Werner com tantos sonhos, tão inteligente e, ao mesmo tempo, com uma vida e um destino tão difíceis. Marie com toda sua imaginação, sede por sabedoria e liberdade, mesmo lidando com a cegueira prematura. Os dois com tanto a buscar, tanto a desejar e com tão poucos meios para chegar onde querem, vivendo os terrores e as perdas da guerra com tão pouca idade. Como nesse sentindo me vi com mais ânsia pelos relatos de Werner que vivia em constante dúvida sobre suas ações e pseudo escolhas, já que para um órfão como ele o caminho do nazismo era inevitável. Todos seus momentos no livro foram cheios de sentimentos de indignação e piedade de minha parte, da angústia cada vez que ele tinha que agir de forma contrária ao que pensava. Os dois personagens me cativaram de uma forma que não sei por em palavras e ainda sim, sozinhos, não sustentariam o livro.
Poderia por fim falar que tudo o que comentei é motivo para ler "Toda luz que não podemos ver". Como ter deixado o livro tanto tempo na minha estante foi um erro, que deveria ter lido muito tempo atrás e que vocês não deveriam cometer o mesmo engano. E seria tudo verdade.
Sobre o livro:
ISBN: 9788580576979
Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 528
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