terça-feira, 9 de agosto de 2016

RESENHA: Lugar Nenhum

Publicado pela primeira vez em 1997, a partir do roteiro para uma série de TV, o sombrio e hipnótico Lugar Nenhum, primeiro romance de Neil Gaiman, anunciou a chegada de um grande nome da literatura contemporânea e se tornou um marco da fantasia urbana. Ao longo dos anos, diferentes versões foram publicadas nos Estados Unidos e na Inglaterra, e Neil Gaiman elaborou, a partir desse material, um texto que viesse a ser definitivo: esta edição preferida do autor.
Em Lugar Nenhum, Richard Mayhew é um homem simples de coração bom que tem a vida transformada quando ajuda uma jovem que encontra ferida numa calçada. De um dia para o outro, Richard se torna invisível na Londres que sempre conheceu: não tem mais trabalho, não tem mais noiva, não tem mais casa. Para recuperar sua vida, ele se embrenha em um mundo que nunca sonhou existir, uma cidade que se abre nos esgotos e nos túneis subterrâneos: a chamada Londres de Baixo, em que personagens únicos e cenários mirabolantes fazem a Londres de Cima parecer uma mera paisagem cinza.
Com muita ação, um bom humor peculiar e evocações sombrias de um mundo fantástico, Lugar Nenhum é leitura indispensável para os fãs de Neil Gaiman e um rico prazer para os que ainda não conhecem o autor.

O livro demorou a prender a minha atenção. Não é que nada de interessante aconteça, pelo contrário. O problema na realidade é que a leitura precisava de mais concentração do que eu dispunha naquele momento, mas a partir da hora que minha atenção se voltou completamente para o livro, acabei encontrando um ritmo que me permitiu aproveitar muito bem o mundo que Gaiman traz em "Lugar Nenhum".

Acho que o grande trunfo dos livros de fantasia do Neil Gaiman não é somente a mistura de realidade e magia, mas o que vemos superficialmente e o que verdadeiramente enxergamos, e não é diferente quando se trata de "Lugar Nenhum". As diferenças entre a Londres de Cima e a Londres de Baixo se dá não somente pela escuridão, mas também sobre aquilo que estamos acostumados a não dar atenção ou a ignorar, e esse aspecto do não apreender o que é visto permeia todo o livro: os personagens, em especial Richard que é o típico adulto com carreira e vida numa rotina basicamente imutável, estão sempre surpreendendo-se com o que não era óbvio um minuto antes.

Falando dos personagens, gosto da forma que o autor os apresenta. Desde o aparentemente comum Richard à sofrida Door, todos são bem caracterizados e são desenvolvidos aos poucos, sem pressa. Richard evolui de forma significante, se transforma a cada acontecimento e se supera em vários momentos. E, claro, também sofre com essas mudanças. 

É também pelos olhos de Richard que percebemos a crítica social embutida na narrativa. Neste caso se refere a Londres, mas poderia muito bem se tratar de qualquer outro lugar do mundo: a pobreza, sujeira, indiferença e insegurança que constantemente tentamos não ver embora estejam presentes o tempo todo. 

Muito mais que a magia, "Lugar Nenhum" nos apresenta momentos perigosos e misteriosos e nos faz observar que estamos sempre aprendendo - e nos surpreendendo - sejam com as situações ou com as pessoas mais inusitadas. A narrativa do autor combina especialmente com suas temáticas e mesmo com meu problema inicial, consegui me divertir com a leitura e ser cativada pelos personagens. Sendo Neil Gaiman já sabemos que é uma leitura bem recomendada. 

Sobre livro:
Lugar Nenhum - Edição preferida do autor 
ISBN: 9788580578997
Autor: Neil Gaiman
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 336

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