Num futuro árido e tumultuado, em que a água ganhou o status de commodity mais valiosa, o direito de uso das fontes e dos rios é alvo de disputas ferrenhas. Uma guerra entre governos, órgãos públicos e empresários, na qual vale tudo. Enquanto advogados e burocratas armam-se com infinitos processos judiciais, mercenários e militares subjugam proprietários de terra, implodem estações de tratamento e interrompem o abastecimento de regiões inteiras.
Nesse cenário surge Angel, um faca de água, um dos muitos mercenários com a missão de cortar e desviar o fornecimento de água a mando de quem paga mais. Lucy é uma jornalista premiada que decidiu revelar para o mundo a realidade da Grande Seca. Maria é uma jovem cuja vida foi destruída pelos efeitos das mudanças climáticas. Quando o direito de usar a água significa dinheiro para alguns e sobrevivência para outros, o que esses três personagens não sabem é que seu encontro é um marco que poderá mudar tudo. Um novo fiel da balança que sempre pendeu para o mesmo lado.
Futurista, mas nada improvável, Faca de Água é um thriller que perpassa por questões econômicas, ambientais e éticas numa narrativa que extrapola o gênero, daquelas que se lê de uma tacada só e depois leva-se um longo tempo assimilando.
O começo do livro foi um tanto penoso para mim. Um pouco mais de cem páginas lidas e nada de me empolgar, mas quando finalmente todo o trabalho apresentado nestas primeiras páginas mostraram aonde o autor queria chegar, consegui ficar bastante animada e curiosa com cada acontecimento.
Temos três pontos de vista: o de Angel, um faca de água que trabalha para a poderosa Catherine Case e tem um passado cheio de violência; encontramos Lucy, uma jornalista que busca muito mais que corpos e casos de chacina para jornais sangrentos; e Maria, uma texana que vive com uma amiga e tenta uma forma de ganhar dinheiro e enfim sair de um lugar bastante perigoso. O início do livro é focado em apresentar e mostrar o dia a dia destes três personagens enquanto vai dando as pistas para os próximos acontecimentos.
O enrendo é muito interessante e aponta para um dos possíveis desastres futuros, a escassez de água. O tema é atual e dá um vislumbre do que pode ser a nossa sociedade quando a água virar o item de maior luxo. Também é abordado questões políticas e sociais muito pertinentes não somente ao contexto do livro como na nossa realidade, além de uma crítica leve ao fanatismo religioso. Quem é mole tipo eu, vai ter problemas em digerir as diversas cenas de violência. Por mais que eu sempre fique agoniada quando leio cenas assim, acho que em "Faca de água" são necessárias para dar o tom certo que o autor quer passar.
Como já disse, o começo do livro é lento e talvez faça muita gente desistir de lê-lo Fiquei aliviada de não ter feito isso, porque depois de um início nada promissor, a história desabrochou e o ritmo imposto pelo autor se modificou visivelmente: as diversas tramas começam a se encontrar, temos desdobramentos que me surpreenderam, e os personagens vão mostrando um lado deles que só os deixam mais interessantes. Um livro que vale muito a pena arriscar a ler.
Sobre o livro:
ISBN: 9788580579437
Autor: Paolo Bacigalupi
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 400
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