sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

RESENHA: A filha perdida

“As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender.” Com essa afirmação ao mesmo tempo simples e desconcertante Elena Ferrante logo alerta os leitores: preparem-se, pois verdades dolorosas estão prestes a ser reveladas.
Lançado originalmente em 2006 e ainda inédito no Brasil, o terceiro romance da autora que se consagrou por sua série napolitana acompanha os sentimentos conflitantes de uma professora universitária de meia-idade, Leda, que, aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias na praia, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida — e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.
No estilo inconfundível que a tornou conhecida no mundo todo, Elena Ferrante parte de elementos simples para construir uma narrativa poderosa sobre a maternidade e as consequências que a família pode ter na vida de diferentes gerações de mulheres.

Este é o meu primeiro encontro com a escrita da Elena Ferrante. Foi uma leitura que me rendeu alguns momentos de desconforto pelos pensamentos honestos de Leda e sua visão da maternidade, casamento e sua vida profissional, mas também me rendeu momentos de reflexão e análise sobre o relacionamento entre mães e filhas.

É uma história mexe com pensamentos que provavelmente não admitimos nem para nós mesmas que temos, em especial quando se opõem ao consenso geral sobre a maternidade. A autora não desenvolve sua história com objetivo de levantar bandeira de certo ou errado, se é que esse conceito aqui se encaixa, ela só nos mostra o outro lado da moeda, e como ela não é tão sem sentimentos quanto pensamos.

É observando Nina e Elena que Leda analisa sua própria vivência como mãe e como filha. Gosto de como a autora faz este paralelo: mostra o choque de gerações quando a Leda pensa no seu relacionamento com sua mãe e que tipo de mãe a própria protagonista se tornou. Ela percebe também suas contradições: como o incômodo que sente no tratamento das filhas para com ela mesmo que muito se assemelhe ao que ela dispensara a própria mãe.

O livro não é grande, o que não impede a autora de nos mostrar em detalhes a personalidade da Leda e toda sua história que nos vai sendo contada de forma não linear. O enrendo tem uma linguagem relativamente leve e com um ritmo que me agradou bastante, mas a carga emocional que ele passa para o leitor é grande, cheios de momentos onde o senso comum é enfrentado pelas atitudes da personagem principal. "A filha perdida" é o terceiro livro da carreira da autora, o primeiro que li de sua autoria, mas que não será o último com toda certeza.

Sobre o livro:
ISBN: 9788551000328 
Autora: Elena Ferrante
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 176


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