Ok-sun Lee, hoje com mais de 90 anos, se tornou uma importante ativista pela indenização das “mulheres de conforto”, e é por meio de seus relatos à autora Keum Suk Gendry-Kim que acompanhamos sua triste história de vida.
Lançada na Coreia do Sul em 2017, a obra já ganhou publicações em outros seis idiomas e tem colecionado prêmios e elogios da crítica no mundo todo. Venceu o Prêmio Especial Bulles d’Humanité, do tradicional diário francês L’Humanité; entrou para as listas de melhores histórias em quadrinhos de 2019 dos jornais The New York Times e The Guardian; venceu os prêmios The Cartoonist Studio Prize, Big Other Book Award e VLA Graphic Novel Diversity Award; e agora, em 2020, está indicada em três categorias do célebre Prêmio Eisner, como Melhor escritor/artista, Melhor trabalho baseado em fatos e Melhor edição americana de material asiático.
O grande êxito de Grama está em trazer à tona a questão desse gravíssimo crime de guerra em uma narrativa leve e chocante ao mesmo tempo, sempre com ênfase na força e determinação de sua protagonista para superar adversidades e manter-se viva. A edição da editora Pipoca & Nanquim, traduzida diretamente do coreano, tem 492 páginas em papel offset 90g, capa dura macia ao toque e com verniz localizado, lombada redonda e fitilho de tecido.
Como telespectadora de dramas coreanos vez ou outra entrei em contato com notícias sobre o período no qual a Coreia estava sob ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial e a pesada herança que este fato deixou para um grande grupo de mulheres coreanas como também no país. Quis saber mais, porém acabava deixando por isso mesmo e quando Grama foi anunciada vi a oportunidade de entender um pouco esse período.
Acompanhar a história real de Ok-sun Lee foi doloroso, mas necessário. O mawha (quadrinho coreano) nos conta desde sua infância até os dias atuais e todo os acontecimentos fundamentais para o entendimento de sua vida e de tantas outras mulheres usadas como escravas sexuais durante a invasão japonesa e chamadas de "mulheres de conforto".
A guerra em si já é um acontecimento grotesco e que deixa grandes cicatrizes, mas é nas histórias menos exploradas historicamente que reside boa parte da crueldade. É triste ver como uma garota com o sonho de ir para a escola acaba sendo vendida, explorada e violentada, e mais triste ainda é saber a quantidade de crianças e mulheres que passaram por isso. A graphic novel é sobre a Ok-sun, mas representa centenas de vítima do mesmo crime e que até hoje não obtiveram desculpas aceitáveis de seus algozes.
A autora mostra sua aproximação com Ok-sun, como foram suas conversas e a sua vida atualmente. Ela não precisa amenizar ou expor demais, porque a própria Ok-sun conta da maneira que se sente apta, e como lembra dos fatos. Sua força de vontade em voltar para seu país e família é uma constante durante toda a graphic novel. Me emocionei em diversas partes, ora chocada com tanta crueldade, ora esperançosa num futuro melhor para Ok-sun.
Imagens: site Pipoca & Nanquim e Amazon
A artista tem um estilo bem marcado, usa muito o preto chapado o que dá um certo peso visualmente falando, mesmo nas partes menos chocantes e condiz bastante com a mensagem contida na obra. Ela se preocupa em se fazer entender ainda que não mostre determinados acontecimentos totalmente, e considero um caminho bastante acertado: o que ela escolhe mostrar já dá conta de nos fazer entender muito bem.
O trabalho gráfico da Pipoca & Naquim está maravilhoso. A capa dura branca com a ilustração original da capa coreana, a jacket amarela unida à arte e sensibilidade da Keum Suk Gendry-Kim contribui para tornar Grama uma leitura indispensável.
Imagem: site Pipoca & Nanquim
Sobre a graphic novel:
Grama
ISBN: 9786586672046
Autora/artista: Keum Suk Gendry-Kim
Editora: Pipoca & Nanquim
Ano: 2020
Páginas: 492
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