quinta-feira, 23 de setembro de 2021

RESENHA: Sul da fronteira, oeste do sol

Em Sul da fronteira, oeste do sol – uma das obras mais aclamadas de Haruki Murakami –, o autor constrói uma história singela, mas potente, para falar do poder que as memórias e o desejo exercem sobre nós.
Nascido em 1951 em um subúrbio de Tóquio, Hajime chegou à meia-idade tendo conquistado tudo que queria. Os anos do pós-guerra trouxeram-lhe um bom casamento, duas filhas e uma carreira invejável como proprietário de dois clubes de jazz. No entanto, ele não consegue se desvencilhar da sensação incômoda de que nada daquilo traz felicidade para sua vida. Somada a isso, uma memória de infância de uma garota inteligente e solitária cresce em seu coração.
Quando essa colega do passado, Shimamoto, aparece em uma noite chuvosa, Hajime não consegue mais permanecer no cotidiano com o qual se acostumou. Shimamoto tem uma beleza de tirar o fôlego, mas guarda um segredo do qual não consegue escapar.
Em Sul da fronteira, oeste do sol, Murakami constrói uma narrativa de lirismo requintado sobre a simplicidade da vida de um homem, permeada por sucessos e decepções.
"Um mergulho fascinante na fragilidade humana, nas armadilhas da obsessão e no enigma impenetrável e sensual que o outro representa." – The New York Time

Murakami é um dos meus autores preferidos e com a oportunidade de ler Sul da fronteira, oeste do sol em mãos, me joguei na leitura. O diferencial desta vez é que o fator fantástico não está presente, e torna a experiência bem interessante.

O autor sempre trabalha com a falta de esperança dos seus personagens e Hajime segue essa linha. É um personagem que incomoda bastante, pois ele tens suas próprias frustrações e vazios, está sempre insatisfeito, enquanto também é o fator que causa os mesmos sentimentos em outras pessoas, como Izumi e Yukiko, e até mesmo em Shimamoto.

É uma pessoa difícil de ter empatia, sendo o responsável pela própria condição, aceitando tudo, sem objetivos e não tendo consideração pelos sentimentos e desejos dos outros em seus relacionamentos. Li muitos livros do autor, e acho ser a primeira vez que tenho tão pouca simpatia com um protagonista dele e acho ser intencional sua estrutura. Afinal, Hajime é um homem beneficiado por sua posição na sociedade, que não amadurece nem cresce, ameniza os próprios erros e somente lamenta nunca encontrar nada que preencha essa falta que sente.

Falando assim parece que não gostei do livro, mas é ao contrário: tendo esse protagonista tão cheio de defeitos, podemos analisar nossas próprias escolhas e como podemos influenciar a vida de outras pessoas com nossas atitudes. Hajime tem uma conduta reprovável, e por isso mesmo parece muito com pessoas que conhecemos e até com algumas características nossas.

Referências a gato e jazz, música no geral, personagem que some são elementos comuns nos seus livros e aqui não foi diferente. Outro ponto comum em seus enredos é a crítica ao capitalismo, sendo que através de Hajime, ele mostra a contradição de quem critica, mas se favorece do sistema, principalmente aproveitando conexões nem sempre honestas.

Tenho problemas com a maioria das personagens femininas desenvolvidas pelo autor, mesmo quando elas são interessantes como a Shimamoto. Dá para perceber toda a carga dramática que ela possui, no entanto vemos somente as mesmas migalhas que o Hajime. Eu entendo que por ser um livro em primeira pessoa, quase uma autobiografia do protagonista, vemos o que ele vê, porém não alivia a sensação que o livro, já muito bom, seria incrível com algum aprofundamento sobre as dores da Shimamoto.

Ainda sim, é claro para mim como o autor consegue segurar o leitor do começo ao fim. Sua narrativa é fluida, leve, nos dá mais informação do que pensamos receber num primeiro momento (como um pouco da economia do Japão após a década de cinquenta). Foi rápido, gostoso de ler, cheio de reflexões e bem Haruki Murakami.

Sobre o livro:
ISBN: 9788556521194
Autor: Haruki Murakami
Tradução: Rita Kohl
Editora: Alfaguara
Ano: 2021
Páginas: 177



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