Em seu romance de estreia, Raven Leilani explora o poder das relações de gênero, classe e raça por meio das angústias e descobertas da jovem Edie, que se vê imersa em uma complexa dinâmica familiar. Eleito um dos melhores livros do ano por The New York Times, The Guardian, Los Angeles Times, entre outros.
Edie tem vinte e poucos anos e está tentando descobrir quem é e o que quer ser – tudo isso enquanto trabalha numa editora e faz as piores escolhas amorosas possíveis. Pela internet, ela conhece Eric, um homem branco de meia-idade que tem um casamento aberto e com quem inicia um relacionamento.
Quando Edie perde o emprego, a esposa de Eric, Rebecca, convida a jovem para passar um tempo em Nova Jersey, onde vivem com Akila, a filha adotiva do casal – que também é negra. Com essa nova dinâmica familiar – marcada pelas tensões políticas, sociais, econômicas e identitárias dos tempos atuais –, as intenções e os pontos de vista de todos os personagens estarão em xeque. E, assim, através de um emaranhado de raiva, dor, ternura e afeto, Edie talvez consiga compreender mais a respeito de si mesma, de seu talento e de seu lugar no mundo.
Quando terminei de ler Luxúria ano passado fiquei muito em dúvida do que achar da experiência. Entendi desde o começo que me faltava um pouco de base para enxergar mais profundamente as temáticas envolvidas e esperar esse tempo para escrever sobre ele me fez bem: consegui identificar mais qualidades e discussões importantes e muito disso foi referência do vídeo da Maria do Impressões de Maria e de comentários da autora e tradutora Stephanie Borges.
Eddie foi difícil de gostar, mas logo percebi o porquê: ela é muito real, poderia ser alguém da minha família, minha vizinha, uma conhecida. Ela tem suas próprias questões e sofre com o machismo da sociedade por não ter vergonha de ter seu lado sexual aflorado. Ainda sim tem muita insegurança quanto ao próprio talento e busca aceitação até mesmo de pessoas que não deveriam fazer diferença em sua vida. Quem não conhece alguém ou é assim?
O relacionamento entre ela e o Eric é só mais um passo nessa aceitação da própria existência, em especial porque ele parece dar segurança a ela em tópicos um tanto delicados para uma pessoa na situação da Edie. E isso piora quando uma série de acontecimentos coloca a protagonista em contato com a esposa dele, a Rebeca.
Em alguns momentos eu tinha raiva da Edie por ela se submeter a certos tratamentos, mas a verdade é que ela era carente de tudo: atenção, condições, família, amizade, esperança. E ainda temos as relações de poder bem evidentes em todo o convívio da Edie. Ela sempre sai perdendo, sempre é quem sofre a maior carga negativa e a autora não nos deixa esquecer essa questão, assim como mostra que a justiça e julgamento social funcionam bem diferente dependendo da raça e poder aquisitivo.
As interações da Edie com a Akila, verdadeiro motivo para a aproximação de Rebeca, foi onde senti mais o fator racial e as conversas mostram muito dos traumas das duas. Foram passagens que me tocaram bastante, já que as duas são jovens e já têm uma bagagem emocional tão pesada e marcada por preconceito. Como se isso não fosse suficiente, ambas estão em contato com duas pessoas igualmente instáveis, mas que retém o poder de mudar a vida delas em prol das suas próprias questões.
Como comentei, é um livro que causa estranhamento, mas muito real. Desde as conclusões óbvias às mais profundas, a narrativa nos fornece perspectivas de uma sociedade punitivista e que usa seu poder para pôr em xeque vida de mulheres negras. Não é uma leitura feliz, porém é uma leitura necessária com temas atuais e muito bem desenvolvidos pela autora.
Sobre o livro:
ISBN: 9786559213412
Autora: Raven Leilani
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2021
Páginas: 232
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