terça-feira, 5 de novembro de 2013

RESENHA: A menina que semeava

Fabiana Araújo

Confesso que já tem um tempinho que terminei esse livro e estava adiando para me sentar e escrever essa resenha. E o motivo de tamanha ‘enrolação’ está no fato de que me faltam palavras que sejam capazes de demonstrar o meu carinho e fascínio por essa estória. Lou Aronica com certeza foi agraciado com o dom da escrita (Obrigada Gage!)
Becky, aos 5 anos, foi diagnosticada com leucemia. Para Cris e Polly a notícia do câncer de sua única filha foi algo bem desesperador, o mundo caiu sob suas cabeças. Era injusto para qualquer um enfrentar uma doença tão assustadora e grave, ainda mais para uma criança tão pequena e inocente. Em meio a incertezas, pânico e tristeza Cris encontra uma maneira bem peculiar e única para ajudar sua filha a passar pelo tratamento e lutar por sua vida.

“Na quarta noite que eles passavam acordados juntos, Chris se recostou na cabeceira da cama de Becky, com a cabecinha dela apoiada no seu peito, a posição favorita deles. Eles não falaram nada por cerca de uns quinze minutos, mas Becky ainda não estava pronta para dormir, exatamente como quando a inquietação dela no quarto o havia acordado há uma hora. Ele detestava a ideia de tudo isso ser tão assustador e confuso para ela. E adoraria poder dizer a ela que tudo ia ficar bem e ela acreditar nele. Mas a sua linguagem corporal contava uma história diferente. Naquele momento, ele teve uma ideia, como se a houvesse recebido de algum entregador de um serviço postal extraterrestre.
— Vamos fazer uma coisa — ele disse, um pouco surpreso pelo som de sua voz depois de um longo período de silêncio.
— Não acho que eu aguento fazer muita coisa agora, papai — Becky disse, cansada.
— Não quero dizer fazer alguma coisa com as mãos, mas com a mente. Você quer?
— Fazer alguma coisa com as nossas mentes?
— Uma história. Não apenas uma simples história. Vamos inventar um mundo
inteiro pra colocar lá dentro.
Becky se endireitou e olhou para o pai. Eles já haviam criado histórias antes, em longas viagens de carro, e geralmente baseadas nos personagens de um dos livros que estavam lendo na hora de dormir. O que ele estava sugerindo agora era uma coisa bem diferente, e ele pôde perceber pela expressão espantada no rosto dela que ela ficara curiosa.
— Como vamos fazer isso?
— A gente simplesmente começa — Chris disse, se mexendo na cadeira levemente.— Agora. Que tipo de mundo vai ser?
Becky pensou por um momento e então seu rosto se iluminou, seus olhos azuis estavam brilhantes como ele não via há meses.
— Vamos criar um reino. Como o do livro que a gente leu outro dia.
— Rei ou rainha?
— Rei e rainha? Juntos. — Ela colocou a mão na testa por um segundo. — E eles têm uma filha adolescente que é muito inteligente e são muito orgulhosos dela.
Talvez algo parecido com a sua prima Kiley que você adora?, Chris pensou.
— Tem magia nesse mundo?
— Um montão — Becky falou com um sorriso largo. — Em todos os lugares. (...)
A conversa continuou até Becky começar a bocejar, apoiar a cabeça no peito do pai e cair no sono. Na noite seguinte, na hora de dormir, eles continuaram a inventar partes do mundo, e ficaram tão envolvidos nesse exercício que só começaram a criar uma história na outra noite — que foi a primeira noite que Becky dormiu bem em mais de uma semana.
Eles chamaram o reino de Tamarisk (...)”


‘A menina que semeava’ é um livro encantador e apaixonante. Como eu disse anteriormente as palavras ficam pequenas diante da beleza única da estória. Lou Aronica nos presenteia com uma narrativa envolvente que nos transporta para um mundo de fantasia onde tudo é mágico e intrínseco. É apaixonante visitar Tamarisk. As plantas, os animais, os personagens e a cultura que Cris e Becky criaram são tão bem descritos e vívidos que passamos a fazer parte desse universo junto com eles. A narrativa é tão bem escrita e detalhada que o leitor si senti lá. Toda vez que Becky visita esse mundo ela nos leva junto com ela. O leitor consegue perceber, através dos relatos mistos de passado e presente, o quanto os 'autores-personagens' foram amadurecendo o enredo. O quanto Becky foi crescendo junto com Tamarisk durante os anos e como os dois mundos interagem e coexistem entre si. Esse, de fato,  é um dos grandes diferenciais da narrativa.

 Além de tratar de um tema sério como o câncer o autor aproveita para introduzir assuntos como amizade, família, divórcio, fantasia, fé e esperança. Os sentimentos de Cris por sua filha é o exemplo de amor puro e simples. Não há nada que ele não faça por ela. Movida por esse amor, às vezes, eu queria estrangular a Polly. Não que ela não seja uma boa mãe. Acredite, ela é. Mas as atitudes dela diante do ex-marido me irritaram bastante. Só quem cresceu em meio a pais separados sabe o quanto o processo pode ser complicado para os filhos e a Polly não facilitava nem um pouquinho a relação de pai e filha.

Devo mencionar que narrativa é um pouquinho complicada de início. Quatro narradores, dois deles distintos, me deixaram um pouquinho perdida. Mas a partir do momento em que o autor os converge em um certo 'momento' tudo fica claro e descomplicado fazendo com que o leitor devore paginas atrás de paginas. Então, não abandonem o livro devido a esse pequeno obstáculo no início ok?

É um livro triste? Sim. E fiquem a vontade para me chamar de sofredora, melodramática, depressiva, ou qualquer adjetivo por gostar desse tipo de leitura e recomendá-lo. rsrs Gosto desse tipo de narrativa porque elas me ajudam a lidar com o dia a dia da 'vida'. Mesmo sendo uma obra de ficção esse tipo de estória sempre me acrescenta algo de relevante para lidar com as perdas naturais da vida: morte, doenças, rompimentos familiares, perdas. Por um motivo ou outro sempre saio desses livros diferente, valorizando mais o que eu tenho hoje. E tenha certeza que após terminá-lo um pouquinho de Tamarisk viverá em você. Leiam!

Booktrailer: 




Sobre o livro:
Título: A menina que semeana
Autor: Lou Aronica
Editora: Novo Conceito
Páginas:414

Leia um trecho do livro aqui


4 comentários:

  1. Eu tinha criado uma vontade muito grande de TER este livro, por causa da minha paixão (futil?) por capas, e até então não tinha parado para ler alguma resenha sobre a história.

    Agora eu também quero LER este livro, ele aparenta ser muito melhor do que eu imaginava, mas tenho uma dúvida... O drama é daqueles cansativos, com um sofrimento exagerado, ou é algo mais próximo do normal?

    Bjs

    http://confraria-cultural.blogspot.com.br/

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  2. Ei Alessandra...


    Não, a linha dramática é muito tênue. Claro que o leitor se emociona muito com a narrativa mas não ti cansa hora nenhuma. A leitura flui muito bem, sem desgastar o leitor a ponto dele se deprimir. Como eu disse na resenha, Tamarisk ficará com você de uma maneira boa, o livro te marca mesmo, com certeza daqui a uns anos você ainda se lembrará do livro e dos personagens.

    Sobre a capa, também sou dessas que se apaixona HAHAHA. Obrigada pelo comentário. Vou passar lá no seu blog pra conhecer e retribuir. Beijão

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  3. Com certeza este seria o tipo de livro em que eu choraria, por várias razões. Li o trecho disponível e gostei.
    Acho simplesmente fascinante isso de criar um mundo assim do nada. Como um bolha de sabão que você vai soprando e ela vai crescendo.
    Ótima resenha Anjo.

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  4. Nossa, eu me interessei bastante por ele! E gosto de narrativas tristes e com substância.
    Sua resenha está ótima!
    Beijos.

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