Ramla tem de abandonar seu amor e a escola para casar-se com um homem velho. Paciência! Safira, a esposa destronada, tem que dividir seu marido e sua casa com a jovem coesposa. Paciência! Hindou, adolescente, tem que se casar com o primo alcóolatra que a humilha e espanca. Paciência!
Três vidas de mulheres, três choques violentos. Uma leitura urgente.
"Os conselhos habituais que um pai dá a sua filha na hora do casamento e, indiretamente, a todas as mulheres presentes, a gente já sabia de cor. Eles se resumiam a uma única recomendação: sejam submissas! Aceitar tudo de nossos esposos. Eles têm sempre razão, eles têm todos os direitos e nós, todos os deveres. Para concluir: paciência, munyal, diante das provações, da dor, das penas."
Na minha busca que une ler autores de diversos países assim como ter mais autores negros na minha lista de lidos, encontrei em As impacientes um livro rápido de ler, mas com tanto conteúdo que demorei a escrever sobre e ainda não sei se o fiz minimamente bem.
Primeiro de tudo quero falar sobre a religião, ou seria não falar. Não tenho competência alguma para questionar certos aspectos do Islã, só posso comentar o quanto, como mulher, me dói que a união da fé com sociedade tenha dado tão errado para nosso lado. É horrível como a maior parte do sofrimento de um relacionamento recaia sobre a mulher e que ela precise aguentar todas as escolhas do homem e, ainda por cima, ser encorajada a viver em eterna rivalidade.
Ramla é a que mais parece que se dará bem no livro, afinal estuda o quanto quer e gosta da pessoa que irá se casar, até que o pai, movido pelos próprios interesses, a promete para outra pessoa. As tentativas dela de reverter isso, assim como os conselhos que recebia, me deixavam esperançosa e triste ao mesmo tempo. Ramla praticamente luta sozinha e tem poucas chances de ganhar.
Dos três enredos que são apresentados, o segundo foi o mais impactante para mim. Entre tantas violências, uma que une a física e a mental é tão minimizada pela família da vítima por mais óbvia que seja sua existência. A deteriorização da Hindou me doeu de diversas formas: a primeira pela falta de apoio familiar, a segunda pelo ostracismo social e, a mais importante, pela destruição psicológica. Não conseguia entender como uma coisa tão criminosa pode ocorrer sem nenhum retaliação.
A terceira tem muito de insegurança e rivalidade feminina incentivada por ambas as famílias. Aqui, Samira tem que receber a nova esposa do marido e ela ultrapassa limites para continuar como a preferida. É triste porque uma pessoa essencialmente boa usa dos métodos mais baixos para evitar a presença que a outra esposa nem queria ocupar.
Como disse no começo, minha busca por experiências de leituras variadas me levou à Camarões, país que não sei quase nada e não fazia ideia que o Islã tinha certa força por lá. A autora retrata situações fortes, a injustiça que as mulheres sofrem e tudo isso com uma linguagem acessível. Desenvolvi uma ranço pela palavra "paciência" por algumas semanas? Sim. Difícil não ter, já que nossas protagonistas a escutam até nos momentos que sofrem as maiores violências. Apesar da dor, foi uma leitura que gostei de fazer.
Sobre o livro:
ISBN: 9786586419184
Autora: Djaïli Amadou Amal
Editora: Ímã Editorial
Ano: 2022
Páginas: 220
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