Yejide espera por um milagre: um filho. É o que seu marido deseja, o que sua sogra deseja, e ela já tentou de tudo para engravidar. Mas, quando seus parentes insistem que seu marido receba uma nova esposa, Yejide chega ao limite. Tendo como pano de fundo a turbulência política e social da Nigéria dos anos 1980, Fique comigo relata a fragilidade do amor matrimonial, o rompimento de uma família, o poder do luto e os laços arrebatadores da maternidade. Uma história sobre as tentativas desesperadas que fazemos para salvar a nós mesmos, e a quem amamos, do sofrimento.
Tem livro que você gosta o mesmo tanto que ele te despedaça e Fique comigo é esse tipo de leitura. Entre as idas e vindas da narrativa, que nos conta através de Yejide e Akin como foi o relacionamento deles e como é a vida agora, o sofrimento é presente, assim como é presente a força das tradições.
Creio que nunca deixarei de me impressionar como o machismo vai ser sempre uma fonte interminável de sofrimento. E não falo somente para as mulheres, ainda sendo nós as maiores vítimas, mas também para o homem. É um comportamento que não deixa espaço para ter fraquezas, defeitos, saber ceder. Sempre precisa de um culpado e, como o sistema é, cairá sempre para a mulher esse fardo.
Isso afeta de forma tão brutal Yejide. Não falo exatamente de uma forma física, embora tenha sim sua cota, mas moral e psicologicamente. Vivendo numa sociedade apoiadora de determinados costumes, fica difícil pensar e agir diferente, muito menos sair intacta dessas convenções. Imagina quando uma dessas exigências é também sonho próprio?
Entender que a cultura e a sociedade são determinantes foi essencial para mim, porque entendo a falha humana no relacionamento da Yejide, porém também acredito que poderia ser diferente se esses dois fatores não fossem tão presentes. Não quero justificar com isso as decisões de alguns personagens - para mim não tem como - somente fazer uma reflexão sobre como todos eles são vítimas dessa situação.
O livro também fala bastante sobre a situação política da Nigéria por volta de 1980 e, embora não seja o foco, faz parte do dia a dia do casal e suas famílias. Aliás, a relações familiares também é um tema decisivo, impacta bastante no casamento de Yejide e Akin e acabam forçando escolhas que não deveriam ser feitas.
A escrita da Ayòbámi Adébáyò é forte e delicada ao mesmo tempo. Mesmo com diferenças culturais, os sentimentos transmitidos pelos personagens são muito conhecidos, fáceis de se identificar e muitos dos acontecimentos poderiam se passar em qualquer lugar do mundo. Demorei para tirar o livro da estante e dar uma chance a autora, agora quero muito ler uma nova história dela.
Sobre o livro:
ISBN: 9788595083202
Autora: Ayòbámi Adébáyò
Tradução: Marina Vargas
Editora: Harper Collins
Ano: 2018
Páginas: 240
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