domingo, 3 de junho de 2018

RESENHA: A longa viagem a um pequeno planeta hostil

Você nem imagina os mistérios que existem do outro lado do Universo. Se tiver coragem de desbravá-los, é melhor se preparar. Essa não será uma jornada rápida e os perigos podem surgir a cada momento, de onde menos se espera.
A boa notícia é que você não estará sozinho. Milhares de leitores em todo o mundo já embarcaram nas páginas dessa que é A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil. O livro de Becky Chambers é um marco recente no universo da ficção científica. Lançado originalmente através de financiamento coletivo pela plataforma Kickstarter, ele conquistou a crítica especializada e os ainda mais exigentes fãs do gênero, sendo indicado para prêmios respeitados, como o Prêmio Arthur C. Clarke e o Prêmio Hugo. Um dos motivos do sucesso de A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil é a abordagem da história. Elementos essenciais em qualquer narrativa de ficção científica estão muito bem representados, como a precisão científica e suas possíveis implicações políticas. O gatilho principal é a construção de um túnel espacial que permitirá ao pequeno planeta do título participar de uma aliança galáctica. Mas o que realmente torna único esse romance "On the Road" muito divertido e futurístico são seus personagens. Complexos, instigantes e tridimensionais. A autora optou por contar a história de gente como a gente, ainda que nem todos sejam terráqueos ou mesmo humanos. A tripulação da nave espacial, Andarilha, é composta por indivíduos de espécies, gêneros e planetas diferentes, incluindo um médico de gênero fluido, que transita entre o masculino e o feminino ao longo da vida e uma estagiária nascida nas colônias de Marte, uma piloto reptiliana. Temas como amizade, força feminina, novos conceitos de família, poliamor e racismo fazem parte do universo do livro, assim como cada vez mais fazem parte do nosso mundo.

Sabe quando você tem uma ideia preconcebida sobre um livro e quando realmente o começa parece que a autora teve o trabalho de pegar suas ideias previas e jogar fora? Bem, a Becky parece que fez isso comigo. Ou, mais especificamente, com as experiências de leituras que formaram minhas expectativas para esse livro.

E como foi maravilhosa essa desconstrução. Foi surpresa atrás de surpresa e, ainda sim, parecia não ser algo novo, porque a autora vai construindo o clima para cada momento importante e para cada relacionamento, romântico ou de amizade, com bastante calma, de modo que, quando algo realmente acontecia, o leitor se surpreende, mas aceita totalmente o exposto. 

A autora foca nos desenvolvimentos dos personagens, o que sempre acreditei ser o objetivo e o maior atrativo da ficção científica: discutir o comportamento humano – e de outras espécies – diante das inovações e da exploração do espaço, ou até mesmo diante de situações não usuais. E é nessas situações que vemos a força da empatia, da igualdade e do respeito, assim como a das segundas chances.

Na Andarilha conseguimos ver claramente esse comportamento na fala dos personagens e nos planetas que eles visitam antes de chegar ao seu objetivo. Comportamentos sociais diferentes, cultura, gestual e língua totalmente opostos aos praticados por humanos, experimentados não somente por eles, como também pelos tripulantes de outras espécies que compõem a equipe. Todos tem sua parcela de cuidado e desconfiança com o que não entende, mas supera conforme a necessidade e o entendimento se faz presente. 

Não foi uma leitura rápida para mim, mas porque eu queria entender cada coisa, absorver cada realidade e aprender o que a tripulação aprendia. A autora conseguiu me prender à leitura o tempo todo e sua escrita é gostosa de ler, com personagens que cativam e uma história consistente. Fiquei feliz que tem um segundo volume no mesmo universo e já adicionei na minha lista infinita.

Sobre o livro: 
ISBN: 9788594540508
Volume: 01
Autora: Becky Chambers
Editora: Darkside Books
Ano: 2017
Páginas: 352

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