Octavia E. Butler, a Grande Dama da Ficção Científica e autora de clássicos como Kindred: laços de sangue e A Parábola do Semeador, agora nos apresenta uma incrível coletânea de contos e ensaios, uma perfeita introdução para novos leitores e uma aquisição obrigatória para fãs.
Filhos de Sangue, um dos grandes destaques da coletânea, traz uma avassaladora reflexão de Octavia sobre questões como simbiose, amor, poder e escolhas impossíveis. O conto venceu todas as premiações da categoria como Hugo, Nebula e Locus e é constantemente enaltecido como um de seus melhores trabalhos.
Todos os contos incluem notas da própria autora, abordando a inspiração, criação e desenvolvimento de suas ideias.
Servindo como parábolas dos problemas reais que afligem o mundo atual, cada história nos transporta com poucas palavras pela imaginação extraordinária de Octavia, reforçando a sua posição como uma das autoras mais relevantes da literatura contemporânea.
Filhos de sangue foi minha escolha para o segundo mês do #LeituraPreta, onde deveríamos ler um livro premiado. Bem, o conto dá nome e faz parte do livro, então julguei que estava dentro das regras. Foi meu primeiro contato com a autora e amei sua escrita. Em alguns contos eu me sentia lendo um roteiro de Arquivo X, em outros lia sobre o dia a dia ou uma metáfora sobre a maneira que pensamos e sentimos. Vou comentar alguns deles abaixo mesmos em saber se estou a altura dessa missão.
"Filhos de sangue" é o primeiro conto do livro e trouxe uma reflexão interessante sobre gravidez (tem um plot twist magnífico aqui) e sistemas de poder, por mais que a autora não veja seu enredo assim. Para mim pareceu que essa relação passou para o lado sentimental, mesmo que tenha surgido de um acordo e um dos lados não tinha tanta escolha em relação a isso, pois sua espécie era inferior. Creio que rende muitas discussões justamente por dar margem a tantas intepretações. Entendi bastante porque foi premiado.
Me chamou a atenção o conto sobre a vida da autora - Obsessão positiva - e suas dificuldades para tornar seus objetivos em realidade. Ela trabalha para pessoas que não quer e faz serviços os quais não gosta com o pensamento em um dia se dedicar somente a escrita. Me marcou por ter um tom bem pessoal e imagino quantos autores se veem em suas descrições. Na verdade, ela pode ser um espelho para muitas profissões.
Em "O entardecer, a manhã e a noite" uma doença hereditária faz que o portador perca a razão aos poucos e, em meio a alucinações, acabe se mutilando. A leitura deste conto faz pensar bastante sobre as perspectivas para a própria vida, sobre construir ou não família e como certas relações podem ser influenciadas pela doença. Além da maneira muito impactante que a degeneração é retratada, seu surgimento foi descrito de uma maneira muito interessante e gera muitas reflexões saber como a doença pode ser controlada ao mesmo tempo que remete a tratamentos nada fáceis como internação e vida em sanatório.
O último conto do livro foi o que me deixou mais pensativa. "O livro de Martha" nos mostra uma escritora que encontra Deus e ele a deixa com a missão de salvar a humanidade de sua auto destruição por meio de medidas sustentáveis e pacíficas. Adorei como Martha vai dando opções e enquanto Deus mostra os lados bons e ruins de suas sugestões. Também me tocou como somos induzidos a acreditar numa imagem sagrada de Deus como um opressor e para muitos, isso começa na sua aparência. Fica claro como a imagem dele vai mudando conforme Martha se sente mais segura e como se aproxima mais de sua própria realidade.
Esses foram alguns dos textos que mais gostei dentre uma seleção bastante eclética onde a autora trata suas crenças, seus pensamentos sobre o futuro e sua própria vivência. Creio ser uma boa forma de conhecer sua escrita e já vou com uma boa base ler seus livros mais famosos.
Sobre o livro:
ISBN: 9786586015010
Autora: Octavia E. Butler
Tradução: Heci Regina Candiani
Editora: Morro Branco
Ano: 2020
Páginas: 240
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