Lançado em 1974, o quinto romance de James Baldwin narra os esforços de Tish para provar a inocência de Fonny, seu noivo, preso injustamente. Livro que inspirou o filme homônimo dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar por Moonlight.
Tish tem dezenove anos quando descobre que está grávida de Fonny, de 22. A sólida história de amor dos dois é interrompida bruscamente quando o rapaz é acusado de ter estuprado uma porto-riquenha, embora não haja nenhuma prova que o incrimine. Convicta da honestidade do noivo, Tish mobiliza sua família e advogados na tentativa de libertá-lo da prisão.
Se a rua Beale falasse é um romance comovente que tem o Harlem da década de 1970 como pano de fundo. Ao revelar as incertezas do futuro, a trama joga luz sobre o desespero, a tristeza e a esperança trazidos a reboque de uma sentença anunciada em um país onde a discriminação racial está profundamente arraigada no cotidiano.
Minha escolha para a #LeituraPreta de Abril foi também minha primeira obra lida do autor. Escolhi na categoria clássicos primeiro porque ele é um e segundo porque a definição de clássico que seguia foi a mesma do clube do livro: se marcou uma época ou um grupo de pessoas, é clássico.
Como primeiro contato posso afirmar que achei um tanto estranho no começo como foi escolhida a forma de contar o enredo, mas logo me adaptei. Entre presente e passado passamos por vários momentos do relacionamento de Tish e Fonny, de uma amizade até o envolvimento amoroso deles, vemos situações que pontuam bem como é a convivência de ambos. Essa atenção para mim foi essencial porque consegui aceitar a determinação da Tish muito naturalmente.
A família de ambos são presentes durante toda a história, sendo a da Tish mais unida e mais sadia, enquanto a do Fonny passa por problemas de convivência que vão desde a religião ao alcoolismo e até mesmo o colorismo, ainda que de forma pontual. É interessante como o autor parece pôr um pouco da própria vida nesses problemas, e como cria duas famílias tão diferentes envolvidas no acontecimento embora com determinações distintas diante da prisão de Fonny.
O estereótipo do homem negro estuprador e da mulher negra como objeto de divertimento e saciedade sexual do branco são explorados no enredo, e o autor mostra o quão prejudicial e injusto é. No final, só quem se importa com a verdade são os familiares, porque para a sociedade, as pessoas negras são culpadas ou merecem o tratamento recebido.
Fica evidente o racismo também na forma de fazer justiça, ou de usar de corrupção para prender uma pessoa inocente simplesmente por sua cor. É tão atual, tão injustamente comum que a revolta vem aos poucos e não de uma só vez. Fiquei pensando o quanto nos acostumamos de ver determinados comportamentos sendo repetidos que a dor não é sentida na intensidade que deveria.
É uma leitura pesada de algumas formas, embora o amor de Fonny e Tish seja muito forte. O autor nos mostra pessoas fazendo de tudo por quem amam nos momentos mais difíceis, e ele não faz de uma maneira que os personagens sejam pessoas perfeitas, mas indivíduos necessitados de fazer o que podem dentro da própria realidade, e foi uma dos aspectos mais importantes para mim. Fiquei ainda mais curiosa para ler mais obras de James Baldwin.
Sobre o livro:
ISBN: 9788535931945
Autor: James Baldwin
Tradução: Jorio Dauste
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2019
Páginas: 224
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