"Se for para viver, deixe um legado. Deixe no mundo uma marca que não possa ser apagada". — Maya Angelou.
Nos breves ensaios aqui reunidos, temos o privilégio de desfrutar a sabedoria de Maya Angelou, adquirida ao longo de uma vida prolífica pautada por grandes desafios e conquistas ainda mais notáveis.
Com a habilidade de uma exímia contadora de histórias, que compartilha suas experiências com palavras simples e generosas, Angelou costura uma diversidade de assuntos — alguns deles invisibilizados até os dias de hoje, como a solidão da mulher negra — para tecer uma obra repleta de ensinamentos sobre como viver com autenticidade e sabedoria.
Entre meditações e narrativas de sua própria biografia, por vezes em um tom proverbial que evoca os saberes ancestrais, a escritora aborda com sensibilidade temas que atravessam boa parte de nós, como o racismo, a intolerância, o luto, o poder das palavras, a fé, a necessidade de saber quem se é e se autoafirmar no mundo.
Em Não trocaria minha jornada por nada, somos envolvidos em uma conversa íntima que nos motiva a nos reconectarmos com nossa essência, desenvolvermos um senso de coletividade e mantermos a mente e o coração abertos ao navegar pela vida.
Uma leitura para ser feita com olhar atento e uma lupa, pois em cada frase aparentemente despretensiosa podemos nos deparar com um insight capaz de nos transformar.
Maya Angelou tem uma escrita envolvente e desde Poesias Completas eu queria voltar a ler algo dela. Estava na livraria e vi "Não trocaria minha jornada por nada" e achei que era o momento de lê-la novamente.
Nos textos do livro encontramos várias facetas da Maya, pensamentos sobre diversos temas que atravessaram sua vida e como era a visão dela sobre eles. Alguns parecem bobos como em "Modelitos", onde o foco é a relação dela com as roupas coloridas e como isso incomoda o filho na escola, porém é nas reflexões dela que descobrimos como algo tão sem importância pode ter nuances profundas.
O que falar sobre o primeiro texto, "De todas as formas uma mulher"? Quando ela fala que ser mulher dá muito trabalho eu só pude concordar. Desde o físico ao psicológico tudo nos é cobrado e tornar isso uma questão mais leve é necessário para continuar a luta pela igualdade. A visão de religião dela também é forte, e o mesmo posso dizer no texto sobre o luto.
Um dos ensaios mais dolorosos para mim foi Aumentando os limites onde ela deveria estar feliz pelo reconhecimento e sucesso no trabalho, mas percebe o quanto se sentia só e como seu lado profissional - e também sua cor - afastava os homens. "Passaportes para a compreensão" foi outro favorito. Adorei como a autora cutuca um pensamento estadunidense de "só nós importamos" mostrando a necessidade de encontrar e vivenciar outras culturas, entender que as vivências são múltiplas e distintas.
Poucos dos textos apresentados não me agradaram, mas o que mais me deixou em desacordo foi o que ela fala de uma conversa com a avó sobre pessoas que reclamam de algo da vida. Concordo que viver de reclamação não é nem saudável nem bom pessoalmente, mas não se queixar de algo se ele realmente te incomoda? Devemos sim falar e por para fora porque todos nós já carregamos peso demais.
Para um livro tão curto, a sabedoria é imensa. Os textos são fáceis de ler, não tenta fazer firulas para passar a mensagem e conta bastante de atitudes e acontecimentos cotidianos ganhando importância porque se passam com uma mulher preta. Será um livro que sempre irei revisitar.
Sobre o livro:
ISBN: 9786556406916
Autora: Maya Angelou
Tradução: Julia Romeu
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2023
Páginas: 112
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