terça-feira, 24 de maio de 2016

RESENHA: Alucinadamente feliz

Jenny Lawson está longe de ser uma pessoa comum. Ela mesma se considera colecionadora de transtornos mentais, já que é uma depressiva altamente funcional com transtorno de ansiedade grave, depressão clínica moderada, distúrbio de automutilação brando, transtorno de personalidade esquiva e um ocasional transtorno de despersonalização, além de tricotilomania (que é a compulsão de arrancar os cabelos). Por essa perspectiva, sua vida pode parecer um fardo insustentável. Mas não é.
Após receber a notícia da morte prematura de mais um amigo, Jenny decide não se deixar levar pela depressão e revidar com intensidade, lutando para ser alucinadamente feliz. Mesmo ciente de que às vezes pode acabar uma semana inteira sem energia para levantar da cama, ela resolve que criará para si o maior número possível de experiências hilárias e ridículas a fim de encontrar o caminho de volta à sanidade.
É por meio das situações mais inusitadas que a autora consegue encarar seus transtornos de forma direta e franca, levando o leitor a refletir sobre como a sociedade lida com os distúrbios mentais e aqueles que sofrem deles, sem nunca perder o senso de humor. Jenny parte do princípio de que ninguém deveria ter vergonha de assumir uma crise de ansiedade, ninguém deveria menosprezar o sofrimento alheio por ele ser psicológico, e não físico. Ao contrário, é justamente por abraçar esse lado mais sombrio da vida que se torna possível experimentar, com igual intensidade, não só a dor, mas a alegria.

Ri muito e, sim, tive a sensação que ia para o inferno por isso. Bem que avisaram durante a Turnê Intrínseca que o sentimento seria esse, mas foi mais constante do que imaginava. Jenny é hilária e as pessoas com as quais convive parecem só fazer esse lado dela ficar em evidência. Desde o marido, Victor, até suas amigas, todos parecem viver entre se sentirem confusos e divertidos com algumas de suas atitudes.

Embora tenha me divertido, os capítulos mais sérios foram os que mais gostei. O caráter descritivo das sensações pelas quais passa em suas crises de depressão foram tocantes, cruas e tão honestas. Deu uma ideia enorme do que é passar por isso, embora imagine que só quem realmente tem depressão sabe o sofrimento que é. Da mesma forma que família e amigos se divertiam com ela, também sofrem durante suas crises e se preocupam.

Embora não sofra de nenhum dos males que afetam a Jenny (talvez seja um pouco ansiosa, mas nada que atrapalhe minha vida) me senti representada por várias de suas opiniões (principalmente pela devoção ao twitter) e me identifiquei não exatamente com algumas situações pelas quais ela passou, mas sim com os sentimentos que esses eventos despertavam. Também já aluguei meus amigos para escutar meus problemas, embora eles não sejam tão famosos quanto o Neil Gaiman! 

A autora buscou na escrita, seja nos seus livros ou no seu blog, uma forma a mais de lidar com seus transtornos mentais e tenta, de um jeito bem peculiar, fazer com que a vida siga e se torne menos sufocante. Neste livro vamos encontrar momentos de uma história autobiográfica repleta de situações onde o bom humor foi um caminho para que a Jenny não sucumbisse aos diversos obstáculos que a depressão colocava em sua vida e essa determinação de tornar seus dias melhores me ganhou.

Foi uma leitura divertida e dolorosa, que me deixou emocionalmente sensível em algumas partes, mas que também me proporcionou muita risadas (nunca superarei o guaxinim em vídeo conferências e que capa maravilhosa a do livro). A forma que a Jenny expõe sua história é bem fluida e me deixou mega curiosa com o primeiro livro dela. Acho sinceramente que vocês deveriam ler.


Sobre o livro:
ISBN: 9788580579314
Autora: Jenny Lawson
Editora: Intrínseca
Ano: 2016
Páginas: 252

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