domingo, 12 de agosto de 2018

RESENHA: Romancista como vocação

"Haruki Murakami é um dos mais conhecidos autores contemporâneos do Japão. Quando seus livros são lançados, a imprensa noticia filas enormes nas livrarias de Tóquio e traduções para mais de quarenta idiomas. Ícone da escrita fluida, Murakami transita bem em diversos estilos narrativos: ficção, ensaio, reportagem, nada parece estar fora de seu talento literário. Para abarcar toda essa multiplicidade, chega agora Romancista como vocação, uma série de proposições sobre a escrita, a literatura e a vida pessoal do recluso escritor. Escrito na linguagem acessível típica de Murakami, este livro é um convite a todos que desejam habitar o mundo dos romancistas, bem como uma declaração de amor ao ato da escrita."

Como fã do Haruki Murakami sempre me interesso pelos seus livros, mesmo aqueles que não são ficção. Em "Romancista como vocação" temos a visão dele sobre sua profissão, como foi torna-se um romancista e como ele vê o processo criativo não se atendo a dicas, e sim expondo sua própria rotina.

Acho que seu processo criativo foi o que mais me marcou na leitura. Sempre imaginamos e focamos que a inspiração/ imaginação é tudo quando se trata de arte, e frequentemente esquecemos que necessita dedicação, trabalho, concentração. E foi esse aspecto do autor que me chamou a atenção: ele tem uma rotina para o desenvolvimento de suas obras e o tempo que ele se dedica a ela varia, porém a metodologia, não. Pausas e corridas são as constantes, assim como a tradição de sair do Japão para se concentrar somente em sua escrita. Estou até agora impressionada com a quantidade de revisões que ele faz por obra.

Gosto das divagações dele sobre como foi adaptando a narrativa em primeira ou terceira pessoa de acordo com seu desenvolvimento como autor e em forma de desafio a si mesmo, criando aos poucos seu estilo. Suas escolhas são sempre feitas tendo como base sua satisfação como autor e a importância que o leitor dá a obra. Sempre muito criticado em seu país de origem onde é considerado americano demais, o autor conseguiu cativar um público fiel em outros países e ele mesmo levanta a questão da importância dos tradutores para que o sentido embutido em sua história não fosse perdido.

Ao longo do livro ele cita livros que leu, opiniões de autores conhecidos e exemplifica usando suas próprias obras o que ele quis passar com seus comentários e como eles se refletem na história final. Toda vez que "O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação" eu dobrava a atenção ao texto porque ele é meu livro preferido do autor até o momento. 

Creio que suas observações sobre premiações podem incomodar, mas como o próprio autor diz, é somente a visão dele sobre o assunto. Recluso na maior parte do tempo, não me surpreendeu não se sentir tentado a grandes encontros com leitores ou sessões de autógrafos.

Somente seu capítulo sobre o sistema de ensino japonês não me animou tanto, mesmo entendendo as críticas e onde ele queria chegar abordando esse tema.

Não tenho nenhuma pretensão de ser romancista, mas foi um livro que aproveitei bastante pois gosto de saber mais sobre meus autores preferidos, em especial quando é um autor de obras não muito convencionais como o Murakami. Mesmo quando se trata de algo autobiográfico ele consegue manter sua narrativa envolvente. Imagino ser um livro ainda mais importante para autores e aspirantes a autor. Gostei demais.

Sobre o livro:
ISBN: 9788556520388
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Ano: 2017
Páginas: 168

Nenhum comentário: