quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

RESENHA: A casa dos espíritos

O maior sucesso de Isabel Allende, agora com novo projeto gráfico. A casa dos espíritos é tanto uma emblemática saga familiar quanto um relato acerca de um período turbulento na história de um país latino-americano indefinido. Isabel Allende constrói um mundo conduzido pelos espíritos e o enche de habitantes expressivos e muito humanos, incluindo Esteban, o patriarca, um homem volátil e orgulhoso, cujo desejo por terra é lendário e que vive assombrado pela paixão tirânica que sente pela esposa que nunca pode ter por completo; Clara, a matriarca, evasiva e misteriosa, que prevê a tragédia familiar e molda o destino da casa e dos Trueba; Blanca, sua filha, de fala suave, mas rebelde, cujo amor chocante pelo filho do capataz de seu pai alimenta o eterno desprezo de Esteban, mesmo quando resulta na neta que ele tanto adora; e Alba, o fruto do amor proibido de Blanca, uma mulher ardente, obstinada e dotada de luminosa beleza. As paixões, lutas e segredos da família Trueba abrangem três gerações e um século de transformações violentas, que culminaram em uma crise que levam o patriarca e sua amada neta para lados opostos das barricadas. Em um pano de fundo de revolução e contrarrevolução, Isabel Allende traz à vida uma família cujos laços privados de amor e ódio são mais complexos e duradouros do que as lealdades políticas que os colocam uns contra os outros.

O clube do livro me proporcionou a oportunidade de ler "A casa dos espíritos" e, nossa, achei que seria bom, mas não tão bom assim! Mesmo sendo um livro famoso, com filme e tudo, eu não tinha tantas informações sobre ele, então cada desenrolar era uma surpresa.

Os sentimentos que o livro evoca vão se modificando conforme a leitura avança. De início, me parecia que o enredo ficaria no humor mórbido, numa comédia de costumes onde a ligação de Clara com os espíritos seria só uma maneira de enfatizar a estranheza da família, porém estava muito enganada.

As mulheres deste livro tem uma força magnífica, determinação e coragem de sobra, até em seus erros. Clara aparenta fragilidade, mas tem uma das mentes mais sãs dentro da família. Blanca se perde um pouco depois de alguns acontecimentos, porém ainda é admirável de várias formas. Já Alba foi quem mais me despertou simpatia e admiração, além de desespero e tristeza.

Esteban, como um patriarca machista e conservador (aquele tipo de conservador que faz tudo que uma pessoa não deveria fazer) é o meio pelo qual as desgraças se abatem sobre os Trueba. Todas as suas atitudes voltam para cobrar seu preço, e atingem seus descendentes de uma maneira devastadora. A ironia, e tristeza, da situação fica clara até mesmo para ele. 

Outros personagens como Férula, Tránsito Soto, Miguel, Pedro Terceiro e Jaime (um dos meus personagens favoritos) dão outras camadas ao enredo do livro, aprofundando as reflexões sobre o sistema patriarcal, diferenças entre governos, entre ricos e pobres. Também acompanhamos as consequências de um governo ditatorial e a devastação que ele causa, um tópico extremamente necessário vendo o rumo que nosso país está enveredando.

O lado político é quase uma pequena biografia do golpe de 73 no Chile (a autora é sobrinha de Salvador Allende, presidente do Chile na época e deposto por Pinochet) com elementos que se assemelham muito ao que está acontecendo ultimamente na América Latina. É quase como ter uma antecipação de livros de história sobre nossa atual situação. 

Esse primeiro contato com a escrita da Isabel Allende foi maravilhoso. Sua narrativa conquista desde as primeiras páginas e os assuntos são desenvolvidos sem pressa, mostrando todas as variáveis, e com personagens que transitam entre o exótico e o caricato. Meu contato inicial com a autora não poderia ter sido melhor e pretendo retornar à sua obra em breve.

Sobre o livro:
ISBN: 9788528622560
Autora: Isabel Allende
Editora: Bertrand Brasil
Ano: 2017
Páginas: 448

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