Para Kivrin, que se prepara para um estudo de campo em uma das eras mais mortais da história humana, viajar no tempo é tão simples quanto tomar uma vacina desde que seja uma vacina contra as doenças encontradas na Idade Média. Já para seus professores, isso significa cálculos complexos e um monitoramento constante para garantir o reencontro. No entanto, uma crise de proporções inimagináveis pode colocar o futuro de Kivrin, e de todo o Reino Unido, em perigo. Seu professor mais próximo, o sr. Dunworthy, fará de tudo para resgatá-la. Mas até que ponto é possível desafiar a morte.
De 1300 a 2050, Connie Willis faz um trabalho magnífico na construção de personagens complexos, densos e pelos quais é impossível não sentir empatia. O livro do juízo final é ao mesmo tempo uma incrível reconstrução histórica e uma aula sobre o poder da amizade.
Eu curto muito enredos com viagem no tempo, amo ficção científica e, para minha felicidade, o clube do livro escolheu "O livro do juízo final" para nossa última leitura conjunta de 2019. Foi uma excelente forma de terminarmos o ano, principalmente com o misto de sensações que a leitura despertou.
E o livro inicia com preocupações e alguns embates de ego engraçados entre conceituados professores de história de uma universidade. Cheguei a pensar que esse seria o tom adotado para todo o livro até a confusão toda começar. Então acompanhamos os personagens em duas linhas temporais diferentes, ambos preocupados com seu "presente".
Uma das forças da trama está no desenvolvimento dos personagens - como não poderia deixar de ser, afinal a ficção científica trata dos questionamentos humanos frente a evolução tecnológica - ainda que alguns sejam bem caricatos. Os principais passam por diversos estágios de superioridade, entendimento e aceitação, em especial Kivrin. Claro que ela em nenhum momento foi uma pessoa ruim, mas tinha a ideia, comum a todos os estudiosos da universidade, que pertencia à uma realidade mais avançada, e descobriu que a grande diferença se resumia a tecnologia, porque em termos emocionais, se comportavam igual, ou até um pouco melhor. Fiquei comovida com o Padre Roche, admirei a força da Mary, amei como o Colin pode ser gentil e prestativo numa idade tão tenra. Dunworthy também me ganhou com sua determinação em fazer o certo.
Também é digno de nota como todo o caos que acontece no presente é um paralelo para o passado, e vice versa. Nessa comparação podemos ver as reações das pessoas a doença e como afeta seu dia a dia e suas ações. Também é nítido o papel da religião em ambos os casos e como nossos dois pontos de vista - Dunworthy e Kivrin - percebem e se envolvem com a situação a cada dia que passa, deixando uma marca mais profunda do que poderiam imaginar.
E a mistura de sentimentos despertada pela narrativa da Connie Willis é enorme. Como dito no começo da resenha, achei vários momentos engraçados até que tudo vai piorando e minha percepção realmente é da proximidade com o juízo final de tão inesperados que são os acontecimentos e das grandes perdas que o leitor presencia.
E, como leitora, prefiro leituras que mechem comigo dessa forma. Que me façam rir e depois chorar a perda de um personagem querido, que me tire a esperança e depois me devolva com mais intensidade, mesmo quando o final te dá essa esperança, mas não te deixa esquecer o caminho percorrido. Mal posso esperar para embarcar em outro livro da Willis.
Sobre o livro:
ISBN: 9788556510389
Autora: Connie Willis
Editora: Suma de Letras
Ano: 2017
Páginas: 576
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