domingo, 5 de abril de 2020

RESENHA: Daqui pra baixo

Will perdeu o irmão para a violência. Agora, precisa enfrentar sua realidade e descobrir se a vingança é capaz de aplacar sua dor.
Aos 15 anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está à espreita no dia a dia de seu bairro, nos avisos para que não volte tarde para casa, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Dessa vez, os sussurros são sobre seu irmão mais velho. Shawn foi assassinado na rua onde a família mora.
Contado do ponto de vista de Will, Daqui pra Baixo é uma narrativa ágil que se passa em pouco mais de um minuto — o tempo que o elevador do prédio leva para chegar ao térreo. Esse é o tempo que Will tem para descobrir se vai seguir as regras de sua comunidade ou se é possível não perpetuar o ciclo de violência.
A regra número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar alguém. A terceira, a crucial: se fazem algo com você ou com os seus, é preciso se vingar. A curta trajetória do elevador é ritmada pelas paradas em cada andar e por aqueles que aos poucos ocupam a cabine e os pensamentos de Will. Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Originalmente escrito em prosa, depois em verso, Daqui Pra Baixo faz a emoção — a confusão, a revolta, o medo — de um garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.


A primeira coisa que preciso dizer é que escolhi ler esse livro por conta do autor, que conheci quando li "Fantasma". Logo ele me agradou por focar em alguns aspectos da vivência em um bairro violento, e decidi que sempre tentaria ler suas obras. Assim comecei "Daqui para baixo".

Não li a sinopse inteira quando o recebi. Mas quando abri o livro e vi que era em verso, já senti a diferença. E foi uma diferença maravilhosa, porque a estrutura usada pelo autor torna a leitura ágil, dinâmica, faz querer ler a próxima página, o próximo verso. E combina muito com a mensagem que ele quer passar.

A segunda é como me impactou a divisão do livro por andares pelos quais o elevador passa até chegar ao térreo. Falar somente da criatividade da ideia não seria justo, nem daria conta da importância das paradas nesses andares para o Will. A construção de todo o enredo faz total sentido com essas escolhas. Achei genial. E ainda tem o trabalho gráfico maravilhoso do livro, que valoriza ainda mais o conteúdo.

A importante mensagem, e mais enfaticamente a reflexão contida no enredo, funciona muito bem com a estrutura escolhida pelo autor. Acompanhamos e entendemos as etapas pelas quais são apresentadas o ciclo de ódio e violência para o Will, como ele as vê e porque optou inicialmente em seguir as regras. 

Me emocionei ao passar as páginas e me dar conta como os erros e as ligações juntos formam cada tragédia e como várias gerações vão sofrendo com as mesmas decisões. Fui lendo e lamentando, sabendo que em vários lugares as regras descritas no livro são reais, como famílias são destruídas, futuros interrompidos pela perpetuação da violência. E fiquei tocada como a leitura me fez sentir. Como eu torci por uma escolha diferente do Will. E me senti triste por todas as pessoas que não conseguiram sair desse ciclo. 

Sobre o livro:
ISBN: 9788551004982
Autor: Jason Reynolds
Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 320


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