terça-feira, 23 de março de 2021

RESENHA: As 29 poetas hoje

Entre a poesia escrita e a falada, o humor e a revolta, o tom intimista e a voz performática, esta antologia reúne uma geração efervescente de jovens poetas brasileiras.
Quarenta e cinco anos depois do lançamento de 26 poetas hoje ― antologia que marcou época e se tornou um documento incontornável dos anos 1970 ―, Heloisa Buarque de Hollanda se perguntou: quem está fazendo a poesia agora?
Ao se dar conta da surpreendente presença das mulheres, cada uma com sua dicção e seu estilo, Heloisa reuniu vozes de uma geração pulsante e combativa, que impressiona pela força, pela coragem e pelo talento. As 29 poetas hoje é uma antologia que fala sobre identidade, sexo, amor, fúria, política e o Brasil de agora.
Participam: Adelaide Ivánova; Maria Isabel Iorio; Ana Carolina Assis; Elizandra Souza; Renata Machado Tupinambá; Bruna Mitrano; Rita Isadora Pessoa; Ana Fainguelernt; Luz Ribeiro; Danielle Magalhães; Catarina Lins; Érica Zíngano; Jarid Arraes; Luna Vitrolira; Mel Duarte; Liv Lagerblad; Marília Floôr Kosby; Luiza Romão; Raissa Éris Grimm Cabral; Cecília Floresta; Natasha Felix; Nina Rizzi; Stephanie Borges; Regina Azevedo; Valeska Torres; Bell Puã; Yasmin Nigri; Dinha; Marcia Mura.

Estou me tornando uma admiradora de poemas durante essa pandemia e quando tive a oportunidade de ler "As 29 poetas hoje" não quis deixar passar. Os poemas contidos no livro são sobre sentimentos e experiências de vinte e nove mulheres em todos os aspectos possíveis: amor, violências sofridas, dor, esperança, política, questões sociais, sexualidade e feminismo. Não vou fingir ser uma grande conhecedora, nem nada. Meu objetivo é somente comentar um pouco do que senti sobre os poemas de algumas autoras - as mais impactantes para mim - e os pontos que mais me chamaram a atenção.

O livro consegue nos tocar de várias formas e me doeu quando Adelaide Ivánoka nos mostrou toda frieza devotada pelo sistema as vítimas de estupro, assim como as palavras cruas de Elizandra Souza sobre feminicídio com alusão a casos famosos como a de Eliza Samúdio.

Outras autoras trazem as problemáticas referentes a raça e origem, como Renata Machado Tupinambá com a injustiça sofrida por povos indígenas desde a colonização, e a importância da ancestralidade nos poemas de Márcia Mura. Ou a realidade estarrecedora da periferia e toda a hipocrisia de quem fala dessas peculiaridades, em "Menimilimetros" de Luz Ribeiro. Ela também fala de colorismo, assédio e abuso de uma forma quase direta. Foi uma das minhas preferidas.

Também na linha social, Mel Duarte apresenta o incrível "Deslocamento poesia manifesto" sobre o preconceito à arte da periferia e, claro, como essas manifestações são não somente culturais como políticas, me ganhou totalmente e evidencia o elitismo sobre o que é arte no senso comum. Stephanie Borges trás os padrões impostos pela sociedade branca sobre o povo negro, assim como Nina Rizzi escancara os estágios diferenciados da vida para pessoas negras em relação às brancas.

Já a Jarid Arraes, a qual tive o prazer de ler no início do ano, fez uma relação incrível do útero, órgão que dá nome ao poema, com o que a sociedade espera das mulheres. Me agrada imensamente a força de seus cordéis e como consigo ver o nordeste representados neles. O poema sobre menstruação escrito por Ana Frango Elétrico foi pura realidade.

Cecília Florestas é forte em seus poemas sáficos, e da mesma forma são as palavras de Maria Isabel Iorio. Enquanto os textos de Luna Vitrolira são sensuais e também tratam sobre machismo. Já Bell Puã me remeteu aos poemas mais clássicos porém com uma linguagem mais forte, atual.

A organização da Heloisa foi maravilhosa e reuniu autoras com a própria visão do mundo hoje e com maneiras de externá-las singulares. O livro ainda conta com indicação de onde ouvir as poetisas declamarem seus textos, e escutei vários. Faz toda diferença ter as vozes dessas mulheres proclamando mensagens tão necessárias. Gostei bastante da experiência.

Sobre o livro:
ISBN: 9788535934373
Autoras: Adelaide Ivánova; Maria Isabel Iorio; Ana Carolina Assis; Elizandra Souza; Renata Machado Tupinambá; Bruna Mitrano; Rita Isadora Pessoa; Ana Fainguelernt; Luz Ribeiro; Danielle Magalhães; Catarina Lins; Érica Zíngano; Jarid Arraes; Luna Vitrolira; Mel Duarte; Liv Lagerblad; Marília Floôr Kosby; Luiza Romão; Raissa Éris Grimm Cabral; Cecília Floresta; Natasha Felix; Nina Rizzi; Stephanie Borges; Regina Azevedo; Valeska Torres; Bell Puã; Yasmin Nigri; Dinha; Marcia Mura.
Organização: Heloisa Buarque de Hollanda
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2021
Páginas: 264



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