Amal Shahid é um adolescente negro e muçulmano de 16 anos comum crescendo no Brooklyn ― até que se envolve em uma briga em um bairro branco de classe alta e se torna o principal suspeito de um crime que não cometeu. Ele é declarado culpado, enviado para um centro de detenção juvenil e, em meio ao caos que sua vida se tornou, luta para encontrar forças em sua arte. Mas o que fazer quando até mesmo isso lhe é negado?
Com um lirismo envolvente, a autora premiada Ibi Zoboi se une a Yusef Salaam, ativista pela reforma carcerária, para contar a emocionante e profunda história de um menino tentando manter sua humanidade e lutando pela verdade em um sistema feito para usurpá-lo de ambas.
Ibi Zoboi esteve presente na minha lista da #BingoLitNegra no ano passado - Orgulho foi um livro delicioso de ler - e achei muito justo repetir esse ano. Agora, junto com Yusef Salaam, ela se arrisca a contar seu enredo através de poesia e amei cada página.
Ler Socando o ar foi uma mistura de facilidade criada pela narrativa escolhida com a dor de entender que essa história acontece de verdade em todo lugar. Pessoas que "reconhecem" suspeitos através de fotos de anos atrás onde a única semelhança é a cor, rapazes e homens detidos mesmo provando não estar nem perto do local quando aconteceu determinado crime. Ou simplesmente declarados culpados mesmo sem nenhuma pista. Hoje li sobre um homem preso por roubo porque sua carteira estava dentro de um carro que foi roubado dele, o mesmo fez B.O. e ainda sim virou suspeito.
Além das óbvias falhas no processo de investigação, temos ainda o preconceito racial acentuando momentos e situações facilmente esquecidas se a pessoa em questão não fosse negra. Portanto, uma briga escolar comum vira histórico de violência, pensamentos contrários numa aula vira insubordinação e reprovação, dúvidas viram certeza, tudo isso porque o indivíduo é negro. O comportamento da professora de artes de Amal é um exemplo claro desse aspecto e, embora ela reconheça seu dom artístico, quis moldá-lo na arte que servia a ela, e sempre o colocou nessa caixinha racista do negro raivoso.
O livro também demonstra aspectos da vida carcerária onde podemos observar como as regras e formas de lidar com os detentos tendem a acentuar seus problemas e dissolver as chances de sair pessoas melhores. Me falta ainda muita leitura para afirmar ou pensar em formas de melhoria, mas creio não ser difícil de entender como o sistema somente destrói no lugar de tentar realmente recuperar.
Podemos perceber muito da experiência do Yusef Salaam na construção da trama e nas dificuldades passadas por Amal. Yusef é um dos Cinco do Central Park, caso muito conhecido onde ele e mais quatro rapazes negros foram acusados e condenados por um crime que não cometeram. Imagino que muito dos sentimentos de Amal vieram dessas dolorosas lembranças e senti a dor dele lendo.
Os autores também citam trabalhos de outros artistas negros, então aumentei minha lista de leitura consideravelmente ao mesmo tempo que ficava feliz por ter lido algumas obras citadas. Mas não somente livros são mencionados: temos referências à música, artes plásticas, esportes, fato que enriquece bastante o livro. São eles que salvam Amal de sucumbir a toda injustiça e violência do centro de detenção, além de representar sua forma de se expressar.
Pode ser que algumas pessoas não gostem do final, mas na minha intepretação, além de não ser exatamente o foco do livro nos dar uma resposta, é um paralelo com a vida real, onde a verdade nem sempre significa resolução de tudo. No mais, eu me vi envolvida com o livro, com os personagens, com as dores de Amal e os parentes dele, a falta de poder se expressar da maneira que conhece e de como as injustiças tiram a liberdade de diferentes formas. Se tornou um dos meus livros referidos do ano.
Sobre o livro:
ISBN: 9786555111514
Autores: Ibi Zoboi e Yusef Salaam
Editora: Haper Collins Brasil
Ano: 2021
Páginas: 400
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