Ada tem dez anos (ao menos é o que ela acha). A menina nunca saiu de casa, para não envergonhar a mãe na frente dos outros. Da janela, vê o irmão brincar, correr, pular – coisas que qualquer criança sabe fazer. Qualquer criança que não tenha nascido com um “pé torto” como o seu. Trancada num apartamento, Ada cuida da casa e do irmão sozinha, além de ter que escapar dos maus-tratos diários que sofre da mãe. Ainda bem que há uma guerra se aproximando.
Os possíveis bombardeios de Hitler são a oportunidade perfeita para Ada e o caçula Jamie deixarem Londres e partirem para o interior, em busca de uma vida melhor.
Kimberly Brubaker Bradley consegue ir muito além do que se convencionou chamar “história de superação”. Seu livro é um registro emocional e historicamente preciso sobre a Segunda Guerra Mundial. E de como os grandes conflitos armados afetam a vida de milhões de inocentes, mesmo longe dos campos de batalha. No caso da pequena Ada, a guerra começou dentro de casa.
Essa é uma das belas surpresas do livro: mostrar a guerra pelos olhos de uma menina, e não pelo ponto de vista de um soldado, que enfrenta a fome e a necessidade de abandonar seu lar. Assim como a protagonista, milhares de crianças precisaram deixar a família em Londres na esperança de escapar dos horrores dos bombardeios.
Vencedor do Newbery Honor Award, primeiro lugar na lista do New York Times e adotado em diversas escolas nos Estados Unidos.
Eu gosto de livros que se passam no período da Segunda Guerra porque sempre tem um olhar diferente sobre um acontecimento tão terrível. Não me recordo de ter lido nada pela visão de alguma criança que precisou ir para o interior da Inglaterra para se proteger da guerra, salvo "As crônicas de Nárnia", que na verdade acaba não se encaixando bem porque a fuga de Londres só foi a porta para uma aventura fantástica.
Então encontrar Jamie e, em especial, Ada foi interessante por si só. Desde o começo percebemos que a mãe deles se mostrava um risco enorme para os dois, que não entendem exatamente o que se passa. Ada ainda sofria muito mais por sua condição, ou pelo menos, sobre a limitação e agressão que a mãe impõe a ela.
O livro permeia a adaptação das crianças a uma realidade muito diferente da que conheciam, e no caso de Ada e Jamie , é uma mudança para melhor, mesmo sendo difícil. O leque de conhecimento e afeto que os dois começam a receber, a desconfiança de Ada sobre os cuidados de Susan, sua falta de entendimento das coisas mais corriqueiras... Tudo é tratado de uma maneira simples, porém significativa, afinal é Ada, com seus 10 anos, que nos conta a história.
Difícil não se emocionar com seus relatos, a dor que sentia - tanto física, como emocional- sua necessidade de ter o irmão consigo porque era a única constante em sua vida. É doloroso ver sua confiança abalada por uma vida de discriminação e maus tratos, e eu não conseguia parar de torcer pela insistência da Susan, sua persuasão. Queria ver a Ada sendo a criança que ela tinha idade para ser, queria que fosse tratada com carinho e cuidado que toda criança tem direito, queria que ela fosse amada e amasse da mesma maneira.
E o enredo trata justamente de como o afeto, o entendimento e convivência saudáveis podem mudar vidas. Não somente Ada e Jamie foram salvos, Susan também o foi. Ela vivia isolada, sofrendo com a perda de Becky, sua grande amiga (mas se prestarmos atenção, entenderemos que não era somente isso), e cuidar dos irmãos trouxe uma necessidade de focar na realidade e agir. E juntos eles funcionam de maneira maravilhosa, sempre descobrindo algo de si, e despertando o melhor no outro, mesmo nos momentos mais tensos. Os três foram se curando, ou pelo menos, iniciaram esse caminho.
O livro é bem rápido de ler, os capítulos curtos são um ponto que sempre amo, e a linguagem de fácil entendimento. Não tem grandes reviravoltas, mas é o cotidiano dos personagens descrito pela autora com sensibilidade que ganha o leitor. Mal posso esperar para ler "A guerra que me ensinou a viver".
Sobre o livro:
ISBN: 9788594540263
Volume: 01
Autora: Kimberly Brubaker Bradley
Editora: DarkSide Books
Ano: 2017
Páginas: 240
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