quarta-feira, 8 de julho de 2020

RESENHA: Coraline

Certas portas não devem ser abertas. E Coraline descobre isso pouco tempo depois de chegar com os pais à sua nova casa, um apartamento em um casarão antigo ocupado por vizinhos excêntricos e envolto por uma névoa insistente, um mundo de estranhezas e magia, o tipo de universo que apenas Neil Gaiman pode criar.
Ao abrir uma porta misteriosa na sala de casa, a menina se depara com um lugar macabro e fascinante. Ali, naquele outro mundo, seus outros pais são criaturas muito pálidas, com botões negros no lugar dos olhos, sempre dispostos a lhe dar atenção, fazer suas comidas preferidas e mostrar os brinquedos mais divertidos. Coraline enfim se sente... em casa. Mas essa sensação logo desaparece, quando ela descobre que o lugar guarda mistérios e perigos, e a menina se dá conta de que voltar para sua verdadeira casa vai ser muito mais difícil ― e assustador ― do que imaginava.

Neil Gaiman é um dos meus autores preferidos e, por incrível que pareça, eu nunca tinha lido Coraline. O máximo que fiz foi ver o filme, mas nem me lembrava muito o que acontecia. Quando vi que a Intrínseca publicaria uma nova versão do livro, vi minha chance de ler.

Coraline é como toda criança: curiosa, sempre em busca de algo novo, e quase sempre seus pais não estão no mesmo pique que ela, muito envolvidos com seus próprios trabalhos e tarefas do dia a dia. Essa vontade de saber mais, unida ao tédio, é o que impulsiona nossa protagonista a buscar algo para se distrair.

Também é esse o motivo para que ela não se sinta ameaçada quando encontra pessoas no mínimo estranhas. Sendo inteligente, Coraline não demora a sentir que algo está errado, mas até isso acontecer ela imerge nesse mundo que contém muitas coisas interessantes como o gato falante que não tem nome, ratos que parecem adestrados e comidas que combinam muito mais com seu gosto. Todo esse novo mundo supre, a princípio, sua curiosidade.

Coraline vai crescendo conforme o enredo avança e a garota vai criando cada vez mais coragem e discernimento a cada novo percalço. Também cresce seu senso de responsabilidade e coragem, e acompanhamos suas mudanças e amadurecimento, torcendo para que ela consiga salvar seus pais. O autor foca bastante no seu desenvolvimento, assim como nos dos outros personagens, como o Gato. As interações dele com a Coraline sempre são cheias de sabedoria e foram as melhores partes do livro pra mim. 

A mistura que o Gaiman ama, e toda fábula tem, está presente. A fantasia e o terror estão juntas e se fiquei apreensiva em algumas partes, imagino o sentimento do leitor mais novo. Creio ser a dose certa entre ensinar coragem e princípios, divertir e assustar. E unida a fluidez da escrita dele, só conquista ainda mais.


O projeto gráfico é perfeito. Desde a capa dura maravilhosa às páginas coloridas no começo de cada capítulo. A lateral das folhas também é colorida e o visual todo do livro encanta. As ilustrações do Chris, em especial, fazem jus a imaginação de qualquer pessoa que leia e combina demais com as descrições do Gaiman. 

É um livro que lerei com meu sobrinho assim que ele tiver idade para tal, porque tenho certeza que ele vai encarar como uma grande aventura. 

Sobre o livro:
ISBN: 9788551006757
Autor: Neil Gaiman
Ilustrações: Chris Russell
Tradução:Bruna Beber
Editora: Intrínseca
Ano: 2020
Páginas: 224

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