quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

RESENHA: Mais forte - Entre lutas e conquistas

Um dos nomes mais representativos no mundo corporativo e na promoção da igualdade racial no Brasil, Luana Génot compartilha reflexões e episódios de sua trajetória para falar de temas fundamentais para a nossa sociedade. Sincero e direto ao ponto, este livro nos convoca a ser mais solidários e conscientes do lugar que ocupamos, ou que gostaríamos de ocupar.
Neste livro, Luana Génot divide com leitoras e leitores suas vivências e opiniões sobre os mais variados temas – autoestima, beleza, ancestralidade, maternidade, empreendedorismo. Tendo como fio condutor a palavra forte, usada por muito tempo para definir o que mulheres negras deveriam ser, Luana luta para que não precisem desempenhar o papel que esperam delas para conquistar espaço na sociedade.
Ao longo da narrativa, percebemos como a questão racial foi se tornando o filtro pelo qual Luana passou a enxergar o Brasil e o mundo. Assim, percorrendo lembranças dos tempos de menina até a idade adulta, a autora fala de suas origens, de racismo estrutural e do impacto da religião em sua formação. Discute também a relação com os cabelos crespos, o período em que foi modelo de passarela, o significado de seu trabalho e o que espera para o futuro. Seu olhar curioso e atento nos revela a urgência do engajamento de todos para uma sociedade mais justa e fraterna.

Luana Génot conta sua história mostrando parte dos percalços encontrados e as difíceis decisões que ela e sua família precisaram tomar para ter acesso a algumas ferramentas educacionais. Boa parte de sua jornada é muito parecida com as de tantas outras famílias pobres, em especial negras, e encontramos a mãe trabalhando e com dívidas para manter o mínimo de qualidade de ensino. Ao mesmo tempo a própria Luana se apegava aos estudos para tentar abrir caminhos, muito deles com horas e horas de transporte públicos na agenda, até cavar uma oportunidade de modelo que iniciaria uma guinada nada fácil em sua vida.

O processo pode ter aberto portas, mas não com facilidade. Ela resume como foram os nãos recebidos, as respostas que expunham o teor racista da área e como precisou trabalhar muito mais para ter as mesmas oportunidades. O interessante é como essa luta a leva a lugares tão diferentes, com atrativos e problemas distintos, pedindo dela ainda mais fortemente ser quem ela é.

Além de mostrar seu caminho profissional, ela nos conta também como foi sua vida amorosa, as decepções vividas e como se sentia preterida em alguns momentos da juventude. No geral é um sentimento constante em muitas pessoas negras (amorosamente e profissionalmente também), um aspecto que contrasta com a realidade dela no momento, mas ainda sim é muito verdadeiro.

Uma parte muito interessante é quando ela relata as dificuldades da ID_BR - Instituto Identidades do Brasil, fundada por ela, durante a pandemia. As decisões que precisaram ser tomadas para que instituto continuasse, a dedicação dos parceiros do projeto e a necessidade de adaptação.

Não conhecia muito da Luana e achei bem proveitosa a leitura da sua jornada. Disse no início e volto a falar: ela inicia seu caminho de forma muito parecida com a maioria das famílias pobres negras e mudou seu destino na base de estudo, força e oportunidades. Uma combinação que ainda está longe da maioria das pessoas do nosso país.

Sobre o livro:
ISBN: 9788547001407
Autora: Luana Génot
Editora: Objetiva
Ano: 2021
Páginas: 176


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