Lovelace já foi a Inteligência Artificial responsável pelo funcionamento da nave espacial Andarilha no passado. Após uma reinicialização completa, ela acorda em um novo corpo e sem nenhuma memória do que veio antes. Enquanto descobre sua essência e aprende a se virar em um universo repleto de artimanhas e novidades, ela faz amizade com Sálvia uma engenheira empolgada com os desafios que se colocam à sua frente. Juntas, Sálvia e Lovelace vão descobrir que não importa qual seja o tamanho do espaço, duas pessoas podem preenchê-lo.
A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada é uma sequência independente do aclamado romance de estreia de Becky Chambers, A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil. Com a criatividade e visão inovadora já conhecida entre seus leitores, a autora fala sobre amizade, humanidade, força feminina e também debate as teorias e limites do que é possível realizar com a Inteligência Artificial. Tudo com o apuro exigido pelos fãs de ficção científica, que agora encontram uma nova casa na linha DarkLove, da DarkSide® Books.
Munida do meu conhecimento prévio do universo criado pela Becky, voltei a ler um livro escrito por ela e a mesma sensação do primeiro volume se fez presente. O tempo todo me surpreendia e, ao mesmo tempo, me parecia que cada acontecimento já tinha se passado e essa mistura conseguiu me ganhar. De novo.
Como todo livro de ficção científica, os avanços tecnológicos servem para dar um grau diferente as relações, outra perspectiva. Aqui temos uma visão diferente da exposta em "A longa viagem a um pequeno planeta hostil", pois metade da narrativa é feita por Lovelace, onde é narrado seu período de adaptação e seus obstáculos. As dúvidas sobre a própria existência e seu propósito é um aspecto constante, muito bem exposto pela autora e que funciona muito bem dentro do plot. Uma parte que amei foi como a autora explica a forma de "sentir" da Lovelace. Foi muito inesperado e, ainda sim, fez tanto sentido! Eu sentia que verdadeiramente entendia seus sentimentos e sensações.
A outra parte da narrativa fica por conta de Jane. Desde criança até a fase adulta seu ponto de vista é contado e, inicialmente, podemos até não entender o porque de estarmos acompanhando sua vida, porém logo a explicação fica clara.
Essa construção com dois pontos de vista e que, no final, une o enredo, me agradou muito. Gosto como os relatos são interessantes por si só, mas contém o mistério que leva ao clímax da estória de uma maneira que o leitor vai encaixando o quebra cabeças para entender o todo.
Os personagens são ótimos, profundos e entendi porque Sálvia foi a escolhida para abrigar Lovelace. Sua vivência com certeza tornou a nova forma de vida mais segura, ou com menos problemas. Sua relação com Azul é admirável, os dois se completando e dando sentido. A amizade de Sidra e Tak com certeza é uma das melhores coisas do livro porque foi desenvolvida aos poucos, com surpresas e aceitação, mas com sinceridade também.
Amo como a Becky consegue passar tantos sentimentos através de vivências tão distintas, mas que facilmente podemos transportar para nossa realidade. Um exemplo, é que fiquei imaginando se a sensação de não pertencimento ao corpo que Sidra tem não seria uma metáfora para uma pessoa trans que ainda não fez a transição. Bem, não sei se era essa a intenção da autora, porém foi algo que me ocorreu durante a leitura. Sua narrativa me conquista com facilidade e sempre resulta em uma leitura que me faz refletir sobre diversos temas. Espero poder ler outro livro dela em breve.
Sobre o livro:
iSBN: 9788594541215
Série: Wayfarers
Volume: 02
Autora: Becky Chambers
Editora: DarkSide Books
Ano: 2018
Páginas: 320
Nenhum comentário: