sábado, 3 de outubro de 2020

RESENHA: A Casa Holandesa

Após a Segunda Guerra Mundial, graças à conjugação de sorte e um investimento fortuito, Cyril Conroy entra no ramo imobiliário, criando um negócio que logo se tornará um império e levará sua família da pobreza a uma vida de opulência. Uma de suas primeiras aquisições é a Casa Holandesa, uma extravagante propriedade no subúrbio da Filadélfia. Mas o que seria apenas uma adorável surpresa para a esposa acaba desencadeando o esfacelamento de toda a estrutura familiar.
Quem narra essa história é o filho de Cyril, Danny, a partir do momento em que ele e a irmã mais velha — a autoconfiante e franca Maeve — são expulsos pela madrasta da casa onde cresceram. Os dois irmãos se veem jogados de volta à pobreza e logo descobrem que só podem contar um com o outro. E esse vínculo inabalável, ao mesmo tempo que os salva, é o que bloqueia seu futuro.
Apesar de suas conquistas ao longo da vida, Danny e Maeve só se sentem verdadeiramente confortáveis quando estão juntos. Narrada ao longo de cinco décadas, A Casa Holandesa é uma história sobre a dificuldade de superar o passado. Com bom humor e raiva, os dois rememoram inúmeras vezes seu relato de perda e humilhação e a relação entre o irmão indulgente e a irmã superprotetora enfim será colocada à prova quando os Conroy se virem forçados a confrontar quem os abandonou.
Uma saga sobre o paraíso perdido, A Casa Holandesa se debruça sobre questões de herança, amor e perdão, uma narrativa sobre como gostaríamos de ser vistos e quem de fato somos. E, embora seja um livro repleto de reviravoltas que farão o leitor devorar a história, seus personagens ficarão marcados por muito tempo na memória.

Amo enredos sobre família. A dinâmica entre os integrantes, o amor e as desavenças sempre me deixam interessada no que está por vir e no passado daquelas pessoas, e não foi diferente em A casa holandesa.

Um dos pontos mais interessantes do livro é como a casa é quase uma personagem, pois sua existência é motivação para basicamente todo o desenrolar da trama. Seja nas chegadas ou partidas, ou até mesmo nos recomeços: tudo inicia com a casa holandesa e, sendo eu uma arquiteta, não poderia deixar de achar isso um trunfo.

A forma que é narrada tem um grande peso sobre o enredo: o Danny nos fornece a visão do seu passado com as características e lembranças que ele possui ao mesmo tempo que solta algumas informações da importância de determinados momentos no futuro dele e da Maeve. Esse tipo de recurso sempre funciona comigo porque me deixa na espera de como cada acontecimento vai se desenrolar, mesmo que eu saiba o resultado final.

Outro ponto a me ganhar foi o relacionamento entre os irmãos. Sou uma irmã mais velha como a Maeve e creio ser recorrente pra mim fazer algumas escolhas colocando o bem estar do meu irmão antes do meu, mas a Maeve leva isso a outro nível, e entendo o porquê. Sendo somente os dois é natural para ela fazer o que pode pelo Danny e o misto de sensações por suas decisões me atingiam forte toda vez que acontecia. Entendia a ênfase dada a sua educação, a escolha sempre pela melhor e mais cara, mas me doía ver que ela não entendesse como ele se sentia sobre isso.

Me decepcionei um pouco ao esperar algum desenvolvimento por parte do lado da mãe de Danny e Maeve. Uma cena na primeira parte do livro me levou a pensar nessa possibilidade, mas ela não se concretizou. Outra coisa que gostaria de ter lido é sobre a vida pessoal da Maeve sem o Danny. Tudo nela gira em torno do irmão, compreendo isso e sei que na vida real isso acontece bastante. mas achei triste não sabermos praticamente nada dela fora o que fazia pelo Danny.

Claro que são pontos bem pessoais e não estragam a leitura, só são partes que me deixaram curiosa e gostaria de ver no enredo. O início da leitura não foi tão rápida para mim, mas depois fui conquistada principalmente pela Maeve e a relação franca dos irmãos. Fiquei tocada pelas boas pessoas que eles encontraram, entendi a revolta e passividade de várias situações e consegui me identificar em algum nível com os personagens. Foi uma leitura muito proveitosa. 

Sobre o livro:
ISBN: 9788551006603
Autora: Ann Patchett
Tradução: Alessandra Esteche
Editora: Intrínseca
Ano: 2020
Páginas: 352



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