terça-feira, 17 de novembro de 2020

RESENHA: O olho mais azul

Uma tentativa de dramatizar a opressão que o preconceito racial pode causar na mais vulnerável das criaturas: uma menina negra. 
Considerado um dos livros mais impactantes de Toni Morrison, o primeiro romance da autora conta a história de Pecola Breedlove, uma menina negra que sonha com uma beleza diferente da sua. Negligenciada pelos adultos e maltratada por outras crianças por conta da pele muito escura e do cabelo muito crespo, ela deseja mais do que tudo ter olhos azuis como os das mulheres brancas — e a paz que isso lhe traria. Mas, quando a vida de Pecola começa a desmoronar, ela precisa aprender a encarar seu corpo de outra forma. 
Poderosa reflexão sobre raça, classe social e gênero, O olho mais azul é um livro atemporal e necessário.

Meu segundo contato com algo escrito ela Toni Morrison é também seu livro de estreia e o primeiro romance da autora que li. Fiquei tocada pelo enredo que encontrei, mas sei não ter a competência necessária para tratar do assunto com mais profundidade, porém vou tentar o meu melhor para passar meus sentimentos sobre a leitura. 

Quando Claudia começa a narrativa nunca imaginei que seria Pecola o centro de tudo que acontece no livro. Conhecemos não somente sua vida, mas também de pessoas que vão ter papel importante no seu dia a dia e até mesmo importante o suficiente para colaborar com as tragédias de sua vida ainda que durante um encontro rápido. 

Sendo assim acompanhamos Pecola, sua família, o passado de cada um deles e o caminho que percorreram até se tornarem os agentes modificadores do futuro da garota. Infelizmente, esses agentes mudam seu caminho de uma maneira lamentável e foi difícil ler toda dor e tristeza suportada por uma garota de 11 anos. 

A questão central apresentada pela Toni é como o racismo e a desigualdade racial afeta a vida das pessoas negras ao ponto delas não poderem ser associadas ao belo enquanto tudo vindo de pessoas brancas são tidas como representação da beleza. Sendo Pecola pobre e negra de pele retinta recai sobre ela todo o preconceito social levando-a a viver situações tão humilhantes ao ponto dela achar que ter olhos azuis resolveria todos os seus problemas. Já Claudia repele várias ideias porque ela não consegue associar a sua raça e fica claro na sua implicância com a colega de sala de pele clara e sua aversão à boneca Shirley Temple. A vivência das duas é diferente e fica claro na postura de ambas. 

Essas humilhações também são executadas por pessoas negras cujos pensamentos foram moldados por anos de repressão por parte dos brancos. A idéia dos brancos como ideal de vida é tão incutida que os próprios negros a assimilaram e reproduzem uma parte disso com os seus. E como seria diferente já que eles nascem e crescem escutando e sofrendo na própria pele a maneira como o mundo até então era (ou seria como ele ainda é?)? 

Não foi um livro fácil de ler por conta da carga emocional, mas para a Toni também não foi fácil de escrever. Na versão que li, a autora conta um pouco dos seus pensamentos sobre suas escolhas para o livro e seus arrependimentos sobre alguns trechos que ela dizia não ter conseguido passar o que queria. Particularmente eu senti muito dos pontos que ela levantou, mas também sei não ter alcançado tudo que ela gostaria de passar. Vou continuar lendo suas obras e quem sabe conseguir interpretá-las melhor. 

Sobre o livro: 
ISBN: 9788535903157 
Autora: Toni Morrison 
Editora: Companhia das Letras 
Ano: 2019 
Páginas: 224

Nenhum comentário: