Em meio ao apartheid, nos guetos da África do Sul, mãe e filha precisam sobreviver em um ambiente marcado pela pobreza e pelo medo da aids. Este romance traz uma história de superação de cruéis adversidades, mas também conta a trajetória de libertação pessoal de uma mulher orgulhosa e de uma menina que se torna adulta cedo demais. Diante de uma sociedade machista que tenta anular suas existências, Zola e Mvelo lutam para que suas vozes sejam ouvidas.
Sem gentileza foi minha escolha para o desafio #LeituraPreta de março: mulher negra. Creio não ter tido experiência de leitura anterior que tratasse de algum aspecto do apartheid, então para mim foi uma novidade bem vinda pois me fez pensar em pontos antes ignorados.
Também nunca tinha lido nada que fizesse menção a epidemia de Aids na África do Sul e ter o tema tão debatido no livro realmente fez diferença e explica muito dos acontecimentos. É um assunto necessário, onde temos a oportunidade de entender o impacto na vida das pessoas e como o machismo tem grande culpa nessa disseminação.
Através de Mvelo, Zola e Nonceba a autora nos apresenta diversas realidades da sociedade sul africana e como o destino de cada uma foi impactado pela violência, pobreza e preconceito, sendo Nonceba a que mais entende o sistema por conta de sua criação e, por isso mesmo, a que mais o combate. Essa consciência muitose deve a educação recebida, ela tem sua cota de traumas e sofrimento, porém tem mais base e ajuda para se reerguer. Zola não teve a mesma sorte e testemunhamos sua vida decair por conta da intransigência do pai e como isso vai se refletir na vida de Mvelo.
Outro ponto comum, infelizmente, é como certas violências veem de pessoas e lugares que deveriam ser de acolhimento e conforto. Mvelo tem algumas experiências traumáticas dentro desse contexto e é duro ver toda a dor depositada em uma garota tão nova. Todas as escolhas e problemas enfrentados por ela são tão injustos ao mesmo tempo são corriqueiros para garotas na mesma situação.
A narrativa é fluida, tem linguagem bem acessível, e contar o passado de alguns personagens enquanto retrata o presente foi um recurso mito bom, particularmente gosto desse tipo de construção que não entrega logo de cara uma explicação ao leitor. Minha percepção sobre os personagens foi mudando ao longo da trama e consegui torcer por Mvelo, ficar triste por Zola e admirar Nonceba. É um livro com acontecimentos tristes, mas que tem sua cota de esperança.
Sobre o livro:
ISBN: 9788583180791
Autora: Futhi Ntshingila
Tradução: Hilton Lima
Editora: Dublinense
Ano: 2016
Páginas: 160
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