Fenômeno de vendas internacional conta a história entrelaçada de três mulheres em continentes diferentes, mas com a mesma sede de liberdade
Smita é uma intocável, membro da casta mais inferior da Índia. Seu grande sonho é ver a filha escapar da condição miserável em que vivem e ter acesso à educação formal. Na Sicília, Giulia trabalha como ajudante na oficina do pai. Mas, quando ele sofre um acidente e ela precisa assumir o comando, logo percebe que o negócio está à beira da ruína.
No Canadá, Sarah é uma advogada renomada. Quando está prestes a ser promovida a chefe no escritório em que trabalha, descobre estar gravemente doente.
Sem saber que estão conectadas por suas questões mais íntimas, Smita, Giulia e Sarah recusam o destino que lhes está reservado e decidem lutar contra ele. Vibrantes, suas histórias remontam a uma imensa gama de emoções muito familiares e que, por isso, tecem uma trama que fala sobre dois aspectos essenciais de nossas vidas: esperança e solidariedade.
A experiência de ler A trança foi bem rica, não é sempre que temos três personagens vivendo tão distantes, em culturas diferentes e entender as similaridades e disparidades entre elas. Acompanhar Smita, Giulia e Sarah foi ver o mundo por três visões diferentes, mas ainda sim se identificar e compreender suas lutas.
A leitura foi rápida, mas não leve. Lia as partes narradas por Giulia e Sarah com mais facilidade, porque as de Smita eram mais dolorosas de encarar. Não que as outras duas não tivessem dores reais, é somente a forma como a de Smita parecia muito mais difícil de mudar, de transpor, de alcançar algum patamar seguro. De todas as injustiças estruturais contidas no livro, e infelizmente na vida real, a dela me parecia a mais opressora pois faz parte de um sistema aparentemente imutável, onde não se vê a mulher somente como inferior, não as vê, não as considera humanas. Sendo assim, fica ainda mais admirável ver sua luta para dar a filha esperança de um futuro diferente, mesmo precisando correr tantos riscos. Também ficou maior minha raiva, afinal todos deveriam ter acesso a coisas básicas, e ela não tem.
Sarah foi de quem mais senti proximidade no sentindo de ter aspectos muito parecidos culturalmente. Então quando ela tem de relegar a segundo ou terceiro plano a vida pessoal e amorosa para se firmar na profissão eu vi muito de mulheres que conheço, um pouco de mim, das minhas colegas de trabalho: estamos sempre precisando fazer mais e sentir menos para sermos respeitadas. Quando somos, pois também é bem raro acontecer. É uma realidade onde as mulheres adoecem, se sacrificam e são descartadas ao mostrar alguma fraqueza. Me tocou demais quando certa adversidade se apresenta na vida dela, já conheço alguém que está passando por isso.
Das três histórias, a de Giulia foi a menos dolorosa, ainda que precise lidar com a perda e surpresas indesejadas. Ainda sim, foi interessante ver a transição da vida pacata de uma recém saída da adolescência em uma mulher impetuosa e com objetivos. Gosto principalmente como a inovação e tradição são temas presentes e vão desde a forma de administrar um ateliê familiar aos sentimentos de uma jovem dentro da sociedade siciliana.
A autora consegue nos conectar com Smita, Sarahe Giulia independente da realidade delas, e isso é um ponto realmente importante. A narrativa prende, e o livro termina rapidinho e fiquei bem ligada a vida das protagonistas. Gostaria de ter visto mais do destino da Smita porque ficou bastante em aberto se compararmos com as das outras duas. Não sei se estou correta, mas depois de pensar um pouco fiquei imaginando se a autora resolveu contar menos do final dela porque era o mais difícil de mudar, de se realizar, porém não cheguei a pesquisar nenhuma entrevista dela para saber se cheguei perto do motivo.
O título remete ao destino dessas três mulheres tão distantes entre si geograficamente falando, mas ainda sim tão próximas em suas lutas por um futuro melhor e por uma sociedade que não as obrigue a ser sempre forte e imperturbável, calada e humilde, nem a cumprir o esperado para ela. Gosto como o título e a capa remete ao destino das três, foi simples e poético ao mesmo tempo e ficou perfeito para uma trama tão necessária.
Sobre o livro:
ISBN: 9786555601343
Autora: Laetitia Colombani
Tradução: Dorothée de Bruchard
Editora: Intrínseca
Ano: 2021
Páginas: 208
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