quarta-feira, 2 de março de 2022

RESENHA: Circe

Uma releitura corajosa e atual da trajetória de Circe, a poderosa – e incompreendida – feiticeira da Odisseia de Homero.
Na casa do grande Hélio, divindade do Sol e o mais poderoso da raça dos titãs, nasce uma menina. Circe é uma garotinha estranha: não parece ter herdado uma fração sequer do enorme poder de seu pai, muito menos da beleza estonteante de sua mãe, a ninfa Perseis. Deslocada entre deuses e seus pares, os titãs, Circe procura companhia no mundo dos homens, onde enfim descobre possuir o poder da feitiçaria, sendo capaz de transformar seus rivais em monstros e de aterrorizar os próprios deuses.
Sentindo-se ameaçado, Zeus decide bani-la a uma ilha deserta, onde Circe aprimora suas habilidades de bruxa, domando perigosas feras e cruzando caminho com as mais famosas figuras de toda a mitologia grega: o engenhoso Dédalo e Ícaro, seu filho imprudente, a sanguinária Medeia, o terrível Minotauro e, é claro, Odisseu.
E os perigos são muitos para uma mulher condenada a viver sozinha em uma ilha isolada. Para proteger o que mais ama, Circe deverá usar toda a sua força e decidir, de uma vez por todas, se pertence ao reino dos deuses ou ao dos mortais que ela aprendeu a amar. Personagens vívidos e extremamente cativantes, aliados a uma linguagem fascinante e um suspense de tirar o fôlego, fazem de Circe um triunfo da ficção, um épico repleto de dramas familiares, intrigas palacianas, amor e perda. Acima de tudo, é uma celebração da força indomável de uma mulher em meio a um mundo comandado pelos homens.

O primeiro livro do clube do livro 2022 me levou para a época dos deuses gregos e foi uma jornada muito legal, mesmo que não empolgante o tempo todo.

Circe não é uma personagem muito carismática. Na verdade, eu ficava revoltada como ela era tratada por conta da inocência, confiança e lealdade que depositava nas pessoas que menos parecem se importar com ela. Poucas vezes se impõe e são esses momentos os responsáveis por esperar sempre mais dela. Então, boa parte do livro é sobre como ela ainda não se entende nem entende o mundo que habita, as relações que são geradas, os interesses envolvidos.

Essa falta de entendimento a faz refletir, e a nós também, sobre a imortalidade e a fragilidade nela contida, como a perfeição dos deuses é cheia de erros, e a felicidade deles é tão fugaz. Quando ela se encontra no meio desses pensamentos era o momento pelo qual eu mais gostava dela: era de uma sinceridade e percepção bastante latente, e colocava em evidência os defeitos que todos temos, inclusive os deuses.

O ponto de virada para mim foi quando ela precisa proteger uma determinada pessoa e vemos uma deusa completamente diferente: forte em seus objetivos, corajosa para desafiar deuses mais poderosos, sábia para escolher o melhor caminho e usar os poderes que tem. Foi uma caminhada dolorosa até esse momento, ela demonstrava ter amadurecido em outras situações, porém é aqui que ela se transforma e impõe, e foi muito bom de ler.

Os relacionamentos de Circe não são, em sua maioria, muito bons (nenhum dos relacionamentos dos deuses é, acho), então esse lado também me deixava um tanto agoniada: seja familiar (só sentia raiva pelos irmãos e pais dela), romântico ou somente físico, ela tinha inclinação para se doar bastante e poucas vezes era respeitada. Somente dois dos seus amantes me deixaram feliz em ler sobre e a autora mostra que esses também são resultado da evolução dela como pessoa.

Fiquei animada em ver personagens conhecidos como Dédalo, Minotauro, Ariadne, Medeia.. O pouco que li - e esqueci - no início da adolescência não dá conta de ter uma imagem prévia deles, ainda sim gostei de encontrá-los em momentos marcantes do enredo.

Madeline Miller tem uma boa escrita e eu fiquei interessada em Circe e a história dela o tempo todo. Como disse antes, uma parte do livro não me deixou exatamente empolgada, mesmo assim foi uma boa leitura. É bom ver o amadurecimento e auto conhecimento adquirido por Circe, a descoberta da própria força e inteligência, sem falar que a escolha de Madeline para falar dela, personagem não tão explorada, foi acertada. Conseguiu manter a curiosidade e, ao mesmo tempo, mais liberdade para desenvolver seu próprio plot.

Sobre o livro:
ISBN: 9788542215861
Autora: Madeline Miller
Editora: Planeta Minotauro
Ano: 2019
Páginas: 368

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