sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

RESENHA: Orgulho

Zuri Benitez tem orgulho. Orgulho do Brooklyn, de sua família e de suas raízes afro-latinas. Mas orgulho não é o suficiente para salvar seu bairro da gentrificação e de se tornar irreconhecível.
Quando a rica família Darcy se muda para o outro lado da rua, Zuri não quer contato com seus dois filhos adolescentes, mesmo quando sua irmã Janae começa a se apaixonar pelo encantador Ainsley. Acima de tudo, ela não suporta o crítico e arrogante Darius, mas eles são forçados a se entender, e o que antes era um confronto se torna uma inesperada amizade.
Agora, com quatro irmãs a empurrando em direções diferentes, com o adorável Warren em busca de sua atenção e com as candidaturas para a faculdade chegando, Zuri luta entre encontrar seu lugar na paisagem em transição de Bushwick ou perder tudo.
Nesta adaptação contemporânea do clássico Orgulho e Preconceito, a autora aclamada pela crítica, Ibi Zoboi, habilidosamente equilibra identidade cultural, classe e gentrificação com a mágica do primeiro amor em sua vibrante versão do amado romance.

Ser uma releitura de Orgulho e preconceito já seria motivo bastante para me ganhar, assistir uma mesa com a autora na Flipop ajudou muito, mas ter protagonismo negro conseguiu coroar a vontade de ler e foi com grandes expectativas que comecei Orgulho.

A Ibi consegue desenvolver sua trama de forma bem original mesmo que pontue, com as devidas adaptações, momentos marcantes de Orgulho e preconceito. Ela dá uma nova roupagem, insere falas e assuntos pertinentes a nova realidade e não foge da responsabilidade quando o assunto se volta para as diferenças de poder aquisitivo e classe.

Podemos ver essas mudanças através da Zuri, responsável por nos conduzir no enredo. Sua personalidade não foge muito do escrito para Elizabeth, mas por ser atual, vemos uma força diferente nas suas atitudes e achei positiva essa mudança: a Lizzie já era bem para frente na sua época, mas estamos em outro contexto e a caracterização é feita de acordo. Janae é doce como a Jane, porém é mais determinada e tem mais sonhos. As outras irmãs meio que seguem um pouco as originais, mas tem mais união com a família.

O Darius e o Ainsley são os que menos me agradaram na caracterização. O segundo ficou um tanto apagado demais, e o Darius, embora teimoso, fechado e bem intencionado como o Darcy, não tem o mesmo charme, digamos. Não é um ponto exatamente ruim, nem eles são um defeito no todo, e nem esperava fidelidade de personalidade ao original, só queria mais deles como personagens.

Ainda assim, a narrativa da Ibi é gostosa de ler. Adorei as poesias e como ela se inspirou na Elizabeth Acevedo, de A poeta X. Ela explora uma dinâmica muito boa entre os personagens e consegue mesclar vários assuntos relativos a adolescência num bairro pobre, como decisões para o futuro e como as tornar viável, e os problemas relacionados ao racismo, a periferia e a gentrificação. Por sinal, não consigo recordar de um livro que tenha dado essa ênfase a este último assunto e seja destinado ao público jovem. Gostei do que encontrei.

A autora ainda consegue focar na religião e cultura dominicana e haitiana, e Zuri sempre fala dessas raízes. Ela tem noção de si mesma, de quem é , de onde veio e abraça isso sem pudor. Mesmo quando parte da família faz uma vergonha típica de Mrs. Bennet! 

A Ibi já tinha uma admiradora em mim desde a Flipop, mas agora conseguiu uma leitora que vai esperar seus livros pronta para encontrar temas relevantes e uma ótima escrita.

Sobre o livro:
ISBN: 9788595085527
Autora: Ibi Zoboi
Tradução: Giu Alonso
Editora: Harper Collins Brasil
Ano: 2019
Páginas: 272

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