terça-feira, 1 de junho de 2021

RESENHA: A Metade Perdida (Intrínsecos #30)

Do The New York Times - autora best-seller de As Mães, um novo romance impressionante sobre irmãs gêmeas, inseparáveis quando crianças, que no final das contas escolheram viver em dois mundos muito diferentes, um preto e um branco.
As irmãs gêmeas Vignes serão sempre idênticas. Mas depois de crescer juntos em uma pequena comunidade negra do sul e fugir aos dezesseis anos, não é apenas a forma de suas vidas diárias que é diferente quando adultos, é tudo: suas famílias, suas comunidades, suas identidades raciais. Dez anos depois, uma irmã mora com sua filha negra na mesma cidade do sul da qual uma vez tentou escapar. A outra secretamente passa por branco, e seu marido branco nada sabe de seu passado. Ainda assim, mesmo separadas por tantos quilômetros e tantas mentiras, os destinos das gêmeas permanecem interligados. O que acontecerá com a próxima geração, quando as histórias de suas próprias filhas se cruzarem?
Tecendo várias vertentes e gerações desta família, do Extremo Sul à Califórnia, dos anos 1950 aos 1990, Brit Bennett produz uma história que é ao mesmo tempo uma fascinante e emocionante história de família e uma brilhante exploração da história americana de passagem. Olhando muito além das questões raciais, A Metade Perdida considera a influência duradoura do passado à medida que molda as decisões, desejos e expectativas de uma pessoa e explora algumas das múltiplas razões e reinos em que as pessoas às vezes se sentem impelidas a viver como algo diferente as suas origens.
Assim como em seu álbum de estreia best-seller no New York Times, As Mães, Brit Bennett oferece uma fascinante virada de página sobre família e relacionamentos que é envolvente e provocante, compassiva e sábia.

Creio que vocês que acompanham o blog aqui e no instagram perceberam que estou tentando mudar um pouco minhas leituras e me aprofundar nas obras de autores negros já tem um tempo. É um processo lento pra mim, que tem muito a ver com minhas raízes e me falta ainda conhecimento para determinados assuntos, então receber e ler A metade perdida, que veio pelo Intrínsecos, me fez ter uma visão de passabilidade e colorismo que eu só tinha visto definição.

Como as duas irmãs, Stella e Desiree decidem se portar frente a sua raça é o que define o caminho trilhado por ambas. Quando uma delas decide se apresentar e se portar como branca, tudo parece conspirar para que a vida dela melhore e ela tenha acesso a pessoas, lugares e condições que não seriam possíveis na época e que ainda hoje são difíceis para pessoas negras. Foi um aspecto do livro que me ajudou bastante a entender passabilidade e é muito forte como isso define todo o futuro da personagem.

Já a irmã que continua vivendo como negra enfrenta obstáculos e dificuldades que são potencializadas por ser mulher. Ela também recebe críticas por ter se envolvido com um homem negro de pele escura, fazendo assim que sua filha não fosse clara como ela. São situações diferentes para duas pessoas fisicamente idênticas que optaram por renegar ou reafirmar o que são mesmo que o medo e os segredos acompanhem suas vidas.

Sabemos que o racismo é ainda um problema enorme e, infelizmente, há uma diferença de tratamento entre os negros de pele clara e os de pele escura, não os livrando de receber preconceito e sim diferenciando-os somente pela quantidade e intensidade. No livro podemos ver isso de maneira mais óbvia, mais intensa e creio ser somente a segunda vez que tenha lido uma ficção que trate de colorismo - a primeira foi O olho mais azul, da Toni Morrison - por isso não posso afirmar se a abordagem da autora peca em algum quesito, mas para mim deixou mais evidente um assunto que é bem discutido hoje em dia, ainda que eu não tenha conhecimento suficiente para avaliar.

Além desses pontos, a autora também trata de gênero e feminismo, mesmo não sendo o foco. Tem também representatividade LGBTQIA+, e eu adoraria ler mais sobre o personagem porque a trama paralela que o envolve me deixou realmente curiosa para saber seu futuro.

A narrativa é em terceira pessoa, mas tem vários pontos de vista: Stella, Desiree, Jude, Kennedy... através delas todas as consequências das escolhas e segredos nos é apresentada e algumas situações no mínimo irônicas acontecem. É como se certos papéis se invertessem e recompensasse ou castigasse por conta das decisões do passado.

O desenvolvimento do livro me surpreendeu porque o início eu achei um tanto confuso, porém depois fiquei feliz com a separação das partes por anos, e me vi bastante envolvida, tentando entender o que as levou a sair da cidadezinha, como seus traumas e experiências moldaram as adultas que se tornaram. Como a trama não se passa nos dias atuais, a Brit Bennett optou por usar termos da época, então a Intrínseca respeitou a escolha da autora e deixou uma nota fazendo essa observação. Foi um livro difícil de avaliar e explicar como me senti lendo - ainda sinto que não expressei tudo o que eu gostaria, por isso tanto atraso para fazer a resenha -, mas que eu espero que possam ler.

Sobre o livro:
A metade perdida (Intrínsecos #30)
ISBN: 9786555601541
Autora: Brit Bennett
Editora: Intrínseca
Ano: 2021
Páginas: 336



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